PUBLICIDADE

Filho de líder do Hamas diz a jornal que foi 'espião de Israel'

Palestino de 32 anos afirma que se converteu ao cristianismo e hoje mora na Califórnia.

Por BBC Brasil
Atualização:

Filho de um dos líderes do grupo militante palestino Hamas, Mosab Hassan Yousef afirmou em entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal isralense Haaretz que trabalhou como espião para o serviço de inteligência Shin Bet, de Israel. A entrevista antecede o lançamento da biografia do palestino de 32 anos, que se converteu ao cristianismo e hoje vive na Califórnia, nos Estados Unidos. A afirmação de Mosab Hassan Yousef foi confirmada à BBC por um ex-diretor do Shin Bet. No entanto, o Hamas desmentiu as declarações e afirmou que trata-se de uma iniciativa com o objetivo de "difamar" o grupo palestino. Yousef é filho do xeque Hassan Yousef, uma das principais figuras e co-fundador do Hamas na Cisjordânia, atualmente cumprindo pena de seis anos em uma prisão israelense. Caso as declarações de Mosab Hassan Yousef sejam verdadeiras e ele realmente tenha participado de esforços para evitar ataques a Israel, o grupo palestino deve sair desmoralizado do episódio. Um dos maiores motivos de orgulho do grupo é a sua disciplina ferrenha. O Hamas também se distancia da Autoridade Palestina por não concordar com a atitude de negociar a paz com Israel. O caso de Yousef seria antigo, mas recentemente surgiram rumores de que o grupo teria sido traído, quando o líder Mahmoud al-Mabhouh foi assassinado em Dubai, em 20 de janeiro. Conversão Em 2007, Mosab Hassan Yousef se converteu ao cristianismo e se mudou para os Estados Unidos. Desde então, ele se dedicou a escrever o livro Son of Hamas ("Filho do Hamas," em tradução literal), que deve ser publicado nos Estados Unidos em breve. "Ele, como centenas de outros que lutam contra o terror, forneceu informações muito importantes", disse Gideon Ezra, ex-vice-diretor do Shin Bet, que atualmente atua como parlamentar no Knesset pelo partido Kadima. Ezra disse que o filho do xeque Hassan Yousef foi convencido a dar informações a Israel quando ele próprio cumpria pena de prisão. O líder do Hamas Ismail Radwan afirmou que a reportagem do Haaretz é uma "difamação infundada" para atingir o pai de Yousef. "O povo palestino tem grande confiança no Hamas e na sua luta e não vai ser enganado por essa difamação e essas mentiras sobre a ocupação de Israel", disse Radwan à agência de notícias AFP. O jornalista do Haaretz que assinou a reportagem, Avi Issacharoff, afirmou na quarta-feira à BBC que, por ora, Yousef não está interessado em dar outras entrevistas. Em 2008, a conversão de Yousef ao cristianismo chocou muitos muçulmanos na Faixa de Gaza. Ele foi muito criticado por sua apostasia (abandono da fé). Fonte confiável Mosab Hassan Yousef era considerado a fonte mais confiável do Shin Bet sobre a liderança do Hamas, o que lhe valeu o apelido de "príncipe verde", em referência à cor da bandeira do grupo e ao parentesco com um dos fundadores do movimento, segundo o Haaretz. Um dos contatos israelenses do suposto espião afirmou ao jornal israelense que ele teria salvado muitas vidas e que apenas uma de suas informações teria valido "mil horas de reflexão dos maiores especialistas". "A coisa mais extraordinária é que nenhuma das ações dele foi motivada por dinheiro", disse o agente, identificado no livro como "capitão Loai". Na entrevista telefônica ao jornal, o próprio Yousef parece estar entusiasmado com a luta de Israel contra o Hamas. "Queria estar em Gaza agora", teria dito Yousef, da Califórnia. "Eu vestiria um uniforme do Exército e me juntaria às forças especiais de Israel para libertar Gilad Shalit (refém israelense sob poder do Hamas)." Gideon Ezra afirma que, para Israel, não é fácil se infiltrar no Hamas, mas que o país "faz o melhor que pode". De acordo com Ezra, Israel não tem escolha a não ser cooptar militantes palestinos para evitar ataques. Ele afirma, entretanto, que a situação da segurança na Cisjordânia melhorou sob o controle da Autoridade Palestina, do ponto de vista israelense. O parlamentar diz ainda que há muitos motivos para palestinos aceitarem atuar como informantes. "Depende de cada pessoa. Você não pode forçá-los com ameaças. Se eles não quiserem, não há como forçá-los." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.