Filho de testemunha-chave no caso Odebrecht na Colômbia morre envenenado

Alejandro Pizano Ponce de León bebeu água de uma garrafa que estava no quarto do pai e continha cianureto; ele acabara de chegar da Espanha para participar do enterro de Jorge Enrique Pizano, ex-auditor financeiro de empresa associada à Odebrecht

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Por Redação
Atualização:

BOGOTÁ -No momento em que apareceu na televisão da Colômbia para dizer que era vítima de uma perseguição na noite de segunda-feira, Jorge Enrique Pizano já estava morto há quatro dias. Ele deixou a um canal de TV entrevistas, gravações e documentos sobre pagamentos suspeitos na construção de uma estrada gerida por um consórcio ligado à Odebrecht que só deveriam ser divulgados em caso de morte ou se ele deixasse o país. 

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Na terça-feira, a Procuradoria-Geral da República, hoje chefiada pelo mesmo homem a quem Pizano relatou as suspeitas, e que à época era advogado do consórcio, anunciou a morte de Alejandro Pizano Ponce de Leon, filho de Jorge Enrique, que retornara ao país após a morte do pai, na semana passada. 

Alejandro Pizano morreu depois de tomar um copo d’água na casa do pai. Segundo a autópsia, ele foi envenenado com cianureto de potássio. A presença do veneno na casa de Jorge Enrique Pizano levantou questionamentos sobre a morte do engenheiro, inicialmente apresentada como enfarte. 

O arquitetoAlejandro Pizano Ponce de León. Foto: Linkedin/Reprodução

Segundo a vice-promotora-geral da Colômbia, María Paulina Riveros, o cianureto estava dentro de uma garrafa de água com gás que estava em uma escrivaninha do quarto do pai da vítima. Alejandro, que estava acompanhado de uma irmã, bebeu o líquido e, minutos depois, apresentou uma forte dor estomacal e morreu a caminho do hospital. Os investigadores coletaram a bebida para realizar as análises correspondentes e detectaram a presença da substância.

O diretor do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forense, Carlos Valdés, afirmou que a causa da morte de Jorge Enrique Pizano também será analisada pelas autoridades. A morte dos dois ocorre semanas depois deum acidente de carro no Chile ter ferido gravemente Amparo Cerón Ojeda, procuradora que investiga o caso.

Procurador-geral foi advogado de empresa envolvida no caso

Agora, o caso recolocou o escândalo da Odebrecht no centro do debate político colombiano apenas 100 dias depois da posse do presidente Ivan Duque. A morte do pai e do filho também provocou pedidos de renúncia no Congresso do procurador-geral Néstor Humberto Martínez, no cargo desde 2016, que se declarou impedido de investigar denúncias relativas à construtora. 

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O procurador atuou como advogado da empresa Corficolombiana, sócia minoritária da Odebrecht na construção da chamada Ruta 2, estrada que liga o centro da Colômbia ao Caribe e subsidiária do Grupo Aval, uma das maiores empresas do país. Como controlador contratado pela Corficolombiana, Pizano relatou a Martínez pagamentos suspeitos em contratos feitos na Colômbia e no exterior, mas segundo ele, o caso não foi levado adiante dentro da empresa. O contrato custou, ao todo, US$ 2,5 bilhões.

Pizano, que sofria de câncer linfático, morreu de enfarte em sua casa na quinta-feira. Nos últimos meses, ele se dizia traído por Martínez depois que a procuradoria abriu uma investigação relacionada a sua atuação como advogado da Empresa Acqueduto de Bogotá, em uma obra de saneamento em Tunjuelo. O procurador diz que recebeu Pizano “como amigo” e encaminhou os documentos apresentadosa por ele a seus superiores, mas que o próprio Pizano disse a época que não sabia com certeza que os pagamentos se tratavam de propina.

"Perguntei a Pizano se podia assumir que havia propinas, e ele me respondeu que não tinha certeza. Uma das hipóteses que ele contemplava era que se tratava de propinas pagas a paramilitares. A dúvida explica a razão pela qual ele não apresentou nenhuma denúncia às autoridades", afirmou o procurador-geral da Colômbia. Ele disse também que só soube que as descobertas de Pizano tinham ligação com as propinas pagas pela Odebrecht em 2017. 

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“Me tornei desconfortável para várias pessoas”, disse ele na entrevista gravada para a Notícias Uno, meses antes de sua morte.  Em comunicado, o Grupo Aval, que controla a Corficolombiana, disse que está cooperando com as investigações e as alegações de Pizano não são novas, além de não haver, nos papéis indicados por ele, indícios de pagamento de propinas. A empresa também disse ser uma vítima da Odebrecht e rejeitou qualquer alegação que sabia de antemão do pagamento de subornos.

O Grupo Aval é uma das maiores empresas da Colômbia. O conglomerado reúne bancos e empresas de infraestrutura ee é controlado por Luis Carlos Sarmiento, cuja fortuna é estimada em US$ 11,1 bilhões e é considerado o sexto homem mais rico da América Latina./ BLOOMBERG

Construtora Odebrecht Foto: JF Diorio/Estadão
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