Fim da Guerra da Coreia não é ‘moeda de troca’ para desnuclearização, diz Pyongyang

Para governo norte-coreano, sanções impostas pelos EUA podem ser barganha nas negociações sobre a desnuclearização da Península Coreana, mas fim do conflito não pode ser usado da mesma maneira

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Por Redação
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TÓQUIO - A mídia estatal da Coreia do Norte exibiu uma mensagem do governo nesta terça-feira, 2, destinada aos Estados Unidos, dizendo que a declaração para dar fim à Guerra da Coreia não deve ser vista como barganha nas negociações sobre a desnuclearização da Península. O comunicado acrescentou que uma possível moeda de troca seria a suspensão das sanções impostas por Washington ao país.

Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, cumprimenta líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Pyongyang. Foto: Korean Central News Agency/Korea News Service via AP

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Na mensagem, veiculada pela Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA), Pyongyang diz ter tomado medidas significativas para dar fim à hostilidade entre Norte e Sul, argumentando que os EUA estão tentando “subjugar” a nação norte-coreana por meio de sanções. O comunicado deixou claro o desejo de que Washington retire as sanções caso queira progredir nas negociações sobre armamento nuclear, atualmente paralisadas.

Segundo a mensagem, a declaração do fim da guerra, que substituiria o armistício de 65 anos, "não é apenas um presente de um homem para outro" e a questão "nunca poderá ser moeda de barganha para que a DPRK (República Popular Democrática da Coreia) se desnuclearize".

O comentário foi dirigido especialmente a apoiadores da política americana de manter a pressão e as sanções contra a Coreia do Norte até que o país tome ações significativas para se desnuclearizar. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, defensor de tal política, deve viajar para Pyongyang neste mês para tentar retomar o processo de negociação e preparar o terreno para uma segunda cúpula entre o presidente Donald Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

O comentário exibido na KCNA ecoa o discurso do ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Ri Yong Ho, na semana passada, durante a Assembleia-Geral da ONU. Ri disse que a Coreia do Norte está pronta para implementar os acordos que Trump e Kim fizeram durante sua primeira cúpula, em Cingapura, em junho, mas também acusou Washington de não demonstrar disposição para aliviar tensões e construir uma confiança mútua.

"Sem qualquer confiança nos EUA, não haverá confiança em nossa segurança nacional", disse. "Sob tais circunstâncias não há como nós nos desarmarmos unilateralmente em primeiro lugar."

A ênfase do Norte na retirada de sanções e construção de confiança acima de tudo coloca em destaque a sua posição e a posição de Washington desde a cúpula em Cingapura, onde Trump e Kim emitiram uma declaração vaga sobre uma península sem armas nucleares, sem descrever onde ou como isso ocorreria.

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Desde então, as negociações entre Washington e Pyongyang têm sido complicadas, com nenhum dos lados capaz de concordar em um ponto de partida e ceticismo generalizado nos EUA sobre se Pyongyang leva a sério a renúncia de seu arsenal.

As esperanças de progresso nas negociações tiveram impulso no mês passado, quando o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, se encontrou com Kim para uma terceira cúpula.

A reunião resultou em uma declaração conjunta na qual o Norte expressou disposição para um desmantelamento permanente de sua principal instalação nuclear, em Nyongbyon, se os EUA tomarem medidas correspondentes, além do desmantelamento de um local de testes e uma plataforma de lançamento de mísseis. No entanto, não foi especificado o que o Norte considera como medidas correspondentes.

O comentário desta terça e a declaração na ONU sugerem que as sanções são uma preocupação primária para o país. A Guerra da Coreia, de 1950 a 1953 foi pausada pelo o que deveria ser um cessar-fogo temporário, que dura até hoje. Moon e Kim estão trabalhando para que o fim do conflito seja declarado até dezembro. Uma declaração é menos complicada de se fazer do que um tratado formal de paz, já que não envolve a retirada dos 28,5 mil soldados americanos estacionados na Coreia do Sul. / AP

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