Fim de campanha na França é tomado por notícias falsas

Emmanuel Macron, favorito para ocupar a presidência, é acusado nas redes sociais de ter uma conta secreta em um paraíso fiscal

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Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

Na reta final da corrida ao Palácio do Eliseu, a disputa eleitoral na França foi assolada nesta quinta-feira por informações falsas com o objetivo de manipular o debate político. O candidato de centro Emmanuel Macron, do movimento independente En Marche!, lidou com uma acusação anônima com base em documentos falsos sobre a suposta existência de uma conta bancária secreta nas Bahamas. 

O rumor foi disseminado em uma ação coordenada de diferentes perfis criados nas redes sociais, horas antes que a nacionalista Marine Le Pen o usasse contra o rival no histórico debate de quarta-feira à noite, seguido por 15 milhões de espectadores. O caso provocou escândalo ontem e levou a direção do partido de Macron de pedir a abertura de uma investigação pelo Ministério Público para apurar a origem da especulação.

Macron, do partido En Marche!, faz campanha em Albi Foto: EFE/FREDERIC SCHEIBER

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O rumor e a documentação falsa apareceram nas redes sociais em uma seção denominada “pol” do fórum anônimo de internet 4chan, reputada por ser local de proselitismo em favor da supremacia branca e de ideias de extrema direita nos EUA.

Duas horas antes do debate em Paris, um internauta postou o suposto documento “provando” a existência de uma conta no paraíso fiscal com a assinatura de Macron, seguido da mensagem: “Se pudermos fazer com que a hashtag #MacronCacheCash (Macron esconde dinheiro) suba na França para o debate de hoje à noite, isso poderia desencorajar eleitores de votar em Macron”.

Horas depois, em meio ao debate no qual atacou o adversário com violência, Marine Le Pen usou a especulação sem apresentar provas: “Espero que não descubramos que você tem uma conta nas Bahamas”. Macron respondeu: “Madame Le Pen, isso é difamação”.

Com a abertura de uma investigação pela Brigada de Repressão à Delinquência contra a Pessoa do MP, Le Pen passou à defensiva. “Não tenho provas. Apenas o questionei, não quero que se descubra as coisas tarde demais.” Macron, então, foi ao ataque. “É típico de ‘fake news’, e Marine Le Pen tem tropas na internet para colocar isso em andamento”, acusou. No debate, o serviço de verificação de informações do jornal Le Monde identificou ao menos 13 mentiras ou manipulações por parte de Le Pen, contra pelo menos uma de Macron.

Na internet, além do documento falso, continuam a circular rumores sobre a sexualidade do candidato, falsas pesquisas atribuídas a Brigitte Macron, sua mulher, que apontariam a vitória de Le Pen, além de falsificações de pesquisas de opinião invertendo os resultados. A situação de tensão na cobertura chegou a tal ponto que jornalistas de dois veículos críticos à candidata estão sendo impedidos de cobrir a campanha de seu partido Frente Nacional, enquanto dois veículos estatais russos, Russia Today e Sputnik, têm acesso limitado aos eventos de Macron.

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Para Dominique Wolton, fundador do Instituto de Ciências da Comunicação do Centro Nacional de Pesquisa Científica, da França, o debate e as últimas horas de campanha nas redes sociais deram lições que precisam ser aprendidas na cobertura jornalística. “O debate foi ruim, violento, desigual. Foi impossível debater, pois a estratégia de Marine foi o ataque, a insinuação, a mentira”, disse Wolton. “A mentira funciona porque, quando há um debate, o tempo necessário para desmontá-la é grande demais. O que mente ganha sempre, porque seu oponente está na defensiva e perde tempo para responder.” 

 “Não há verdade nas redes sociais, mas opiniões, rumores, especulações. É a anarquia perversa, onde se confunde opinião e expressão com informação. Quando mais tivermos meios de informação, mais jornalistas devemos ter”, afirmou Wolton.

Correções

Uma versão anterior da reportagem indicava a quinta-feira como último dia de campanha na França. Na verdade, as campanhas foram encerradas nesta sexta-feira, 5.

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