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Fluxo crescente sobrecarrega sistema de saúde de Pacaraima

Governadora espera  ajuda federal para aliviar situação causada por chegada inesperada de venezuelanos

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A entrada no Brasil de cidadãos da Venezuela, fugitivos da crise econômica e política do país, quase todos de baixa renda, é um problema social crescente, principalmente para os serviços de saúde pública da pequena cidade de Pacaraima. Segundo a governadora Suely Campos, “os atendimentos aos casos mais graves, de notificação compulsória, mostram que envolvem em maioria, pacientes vindos do território nacional vizinho”.

De janeiro a julho, o Hospital Geral Délio Tupinambá, o principal de Pacaraima, atendeu 3.200 homens, mulheres e crianças que no momento da triagem informaram viver do outro lado da fronteira. O total corresponde a 27% da população do município de pouco mais de 11 mil habitantes. A demanda média de venezuelanos nos três anos anteriores oscilou de 40 a 60 consultas e internações.

Índias venezuelanas deixam maridos para trás e acampam em Paracaima Foto: RODRIGO SALES/FOLHABV

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A governadora espera providências do governo federal – “a intenção é buscar alternativas legais e recursos financeiros para amenizar o sofrimento dos indivíduos”. A situação está sendo monitorada pela Defesa Civil estadual. A primeira constatação é de que está havendo “substancial aumento nos gastos da saúde e a superlotação dos hospitais, sem que haja contrapartida de Brasília”. 

A fragilidade da vigilância epidemiológica venezuelana, “resulta em aumento significativo no registro das doenças endêmicas importadas”, destaca a governadora. Para Suely, “a malária é um exemplo claro: entre 2015 e agosto de 2016, a doença teve um crescimento de 153% entre pessoas que foram infectadas na maioria das vezes na Venezuela, mas assinaladas aqui no Estado, batendo na porta das nossas unidades de urgência e emergência”. Um levantamento sanitário preliminar aponta que HIV/AIDS, tuberculose, leishmaniose e a desnutrição estão na lista das moléstias encontradas entre os refugiados. 

A onda migratória já chegou a capital, Boa Vista, onde estão as unidades locais de atenção de média e alta complexidade. No Hospital Geral de Roraima, 544 venezuelanos foram recebidos de janeiro a junho, ante 531 acolhimentos durante todo o ano de 2015, projetando uma curva ascendente de 102%. “A pressão é enorme – os sujeitos chegam aqui em péssimas condições; alguns simulam crises cardíacas apenas para poderem ser internados e tratados de enfermidades que não implicam risco imediato – mas é seu último recurso”, declarou ao Estado um médico do HGR.

O Estado de Roraima tem apenas uma maternidade, o Hospital Nossa Senhora de Nazareth. Ali nasceu na semana passada o filho de Angelina R., diarista de 27 anos que pretende sair de Boa Vista assim que estiver bem para encarar os 4,7 mil km da viagem até São Paulo. “Feliz ela está agora”, garante a assistente social que a acompanha desde a entrada no centro materno-infantil, creditando o sentimento ao fato de Angelina “ter um filho brasileiro, um cidadão-BR”. Até setembro, 478 venezuelanas haviam sido atendidas na instituição; em 2015 o total do ano inteiro ficou em 308. Ter o filho no Brasil e registrá-lo “com o papel do hospital” garantiria a aceitação, pelas autoridades federais, de um eventual pedido de reconhecimento da condição de refugiado.

Apenas a PF cuida da crise dos imigrantes. O delegado Alan Robson fez há poucos dias uma operação de abordagem nas ruas de Pacaraima para verificação da situação individual dos cidadãos venezuelanos que circulavam pelo município naque período. Foram levados de volta 285 pessoas elevando para 400 a soma dos deportados. 

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