
01 de outubro de 2013 | 02h14
Países do Oriente Médio e a ONU alertaram ontem que a capacidade da região para receber refugiados da guerra síria está esgotada. Dos 2,1 milhões de sírios em fuga, 95% ficam na região, o que colocou governos como o do Líbano e outros em dificuldades financeiras. O aviso foi seguido de um apelo para que outras regiões comecem a receber essas pessoas.
Reunidos em Genebra, ministros e chanceleres receberam da ONU um relatório dramático da situação Síria, que tende a se transformar até o final do ano maior crise internacional em décadas, superando as de Afeganistão e Iraque. "A região está vivendo seus dias mais delicados", declarou ao Estado o ministro de Assuntos Sociais do Líbano, Wael Faour. Segundo ele, o país não conta com 730 mil sírios, como diz a ONU, mas com cerca de 1,3 milhão. "Hoje, 30% de nossa população é composta por refugiados sírios", disse o ministro. "Nosso PIB caiu 8% em dois anos e não temos nem como começar as aulas já que não há espaço para todas as crianças", alertou. "Faltam energia e camas de hospital para todos no Líbano", declarou. "É como se a Alemanha tivesse recebido mais 25 milhões de habitantes em apenas dois anos", comparou.
O principal alerta do ministro libanês refere-se à estabilidade política. "Somos um país frágil politicamente. A guerra civil nos anos 70 começou justamente por um desequilíbrio na sociedade. Não temos como resistir a mais uma mudança demográfica profunda", disse.
Ao Estado, o chanceler iraquiano, Hoshyar Zebari, afirmou que a chegada de mais de 240 mil sírios em poucos meses abriu uma séria crise nas contas regionais. "Há uma real disputa por recursos", disse. "Precisamos de ajuda internacional."
Na Jordânia, o chanceler Nasser Judeh disse que a chegada de sírios levou a pressão sobre os serviços públicos a "níveis inéditos".
O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, acusou a comunidade internacional de um "silêncio sem sentido". Ele lembrou que o apelo da ONU por US$ 4,4 bilhões não foi atendido pelos países ricos. A Grã-Bretanha até hoje não se comprometeu em receber refugiados sírios, enquanto o governo americano promete dinheiro, mas não se propõe a receber refugiados. Uma exceção é a Alemanha, que abriu suas fronteiras a 5 mil sírios.
O governo brasileiro declarou ontem estar disposto a facilitar a concessão de vistos para sírios que queiram viajar ao País. Para Antonio Guterres, alto-comissário da ONU para Refugiados, a Síria é um "teste" para a comunidade internacional.
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