FMI distancia-se da Argentina

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Por Agencia Estado
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Horas antes de o presidente Fernando de la Rúa e o ministro da Economia, Domingo Cavallo, anunciarem um plano para tentar afastar a Argentina do precipício financeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) jogou água fria nesta quinta-feira em especulações do mercado sobre a participação da instituição num esquema de renegociação da dívida do país, que é parte de qualquer solução para a crise em Buenos Aires. O porta-voz do FMI, Thomas Dawson, informou que a contribuição de US$ 3 bilhões que a organização reservou para essa finalidade, quando concedeu uma nova linha de US$ 8 bilhões à Argentina, em setembro, continua a ser uma possibilidade. Mas esclareceu que ela só se materializará se o acordo for voluntário e a Argentina cumprir as metas fiscais de eliminação do déficit público que acertou com o Fundo. Ao mesmo tempo, Dawson descartou a possibilidade de o Fundo antecipar para este mês um desembolso de US$ 1,2 bilhão previsto para dezembro. Como não parece existir nenhuma possibilidade realista de as autoridades argentinas conseguirem zerar o déficit público numa economia em plena depressão (a arrecadação de impostos caiu mais em outubro, segundo informações oficiais) ou de Cavallo convencer os credores da Argentina de que a proposta de reescalonamento da dívida que ele preparou tem caráter voluntário, as palavras de Dawson soaram mais como um aviso de que o FMI está fechado para negócios com Buenos Aires até que fatos novos abram o caminho para a busca de uma solução factível. "Nós reconhecemos as dificuldades políticas da situação e as difíceis discussões entre o governo central e as províncias, cuja resolução é um requisito do programa (fiscal que a Argentina negociou com o FMI)", disse Dawson. "É difícil saber quando isso será resolvido (pois) a ação, neste momento, está em Buenos Aires e não aqui." O porta-voz acrescentou que, embora esteja em constante contato com o governo da Argentina, o FMI "não está participando de negociações" relacionadas com a dívida do país. "Esse é um assunto para discussão, em primeiro lugar, entre as autoridades argentinas e os credores", disse Dawson. "Obviamente, é algo no qual o Fundo e outras instituições multilaterais estão interessados." Perguntado sobre o efeito de contágio de um eventual calote da Argentina, o porta-voz minimizou o problema. "O mercado está mostrando bastante capacidade de discriminar (entre diferentes países), de modo que a idéia de contágio, no sentido em que a conhecemos em crises passadas, simplesmente não parece estar no baralho", disse. A afirmação, combinada com declarações de executivos de bancos de investimentos sobre a inviabilidade do plano que seria anunciado por De la Rúa reforçou a impressão de que o Fundo decidiu não intervir para evitar uma saída traumática para a crise da Argentina.

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