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Fogo amigo atingiu franceses no Afeganistão, diz jornal

Militares feridos no ataque do Taleban dizem ao ?Le Monde? terem sido alvo dos aviões da Otan

Por AP E REUTERS
Atualização:

Um dia após o ataque do Taleban que matou dez soldados franceses e feriu outros 21 no Afeganistão, o presidente Nicolas Sarkozy foi a Cabul para visitar as tropas e se reunir com o colega afegão, Hamid Karzai. Mas enquanto Sarkozy reafirmava o compromisso de manter seus militares no Afeganistão, os franceses reagiram com revolta à morte dos soldados e questionaram a missão no país, especialmente após uma reportagem do Le Monde. Em entrevista ao jornal, soldados que ficaram feridos mas sobreviveram à emboscada do Taleban disseram que a tropa foi atingida por fogo amigo, pois os militares da Otan - chamados para defender os franceses - erraram o alvo e, durante um ataque aéreo, acabaram atingindo o contingente francês. Sob condição de anonimato, os sobreviventes também contestaram outros detalhes da versão oficial, dizendo que o reforço demorou a vir e afirmando que o conflito durou horas. Eles afirmaram que o alto número de vítimas deve-se, principalmente, à lentidão na reação do comando e de vários problemas na coordenação da ofensiva. "A unidade de reconhecimento ficou sob ataque inimigo durante quase quatro horas sem qualquer reforço", disse um militar, contrariando a versão oficial de que o apoio teria chegado rapidamente. "Nós não tínhamos mais munição para nos defender com outras armas que não as Famas (fuzil de assalto)." Ele contou ainda que a comunicação via rádio com outros regimentos foi cortada, dificultando ainda mais a situação. "Quando chegamos a 50 metros de uma montanha, os tiros (dos insurgentes) começaram. E não pararam durante seis horas. Entre os militantes, havia atiradores de elite. Eles eram muitos mais numerosos do que nós, então aguardamos. Dava até para ouvi-los recarregando suas armas", disse um militar. Contrariando a versão oficial, os soldados feridos também disseram que seus companheiros não foram mortos logo no início dos combates, mas sim ao longo das seis horas do confronto com os taleban. O Pentágono afirmou que não há registros de soldados mortos por fogo amigo e o comando do Exército francês também negou que houve erros táticos na operação. No entanto, familiares dos soldados mortos - cujos corpos chegariam a Paris na noite de ontem -, grande parte da imprensa francesa e opositores de Sarkozy criticaram a ofensiva. O líder do Partido Socialista, François Hollande, pediu uma reunião de emergência no Parlamento para discutir a presença francesa no Afeganistão: "Precisamos redefinir nossa missão lá e precisar melhor nossos objetivos." Em Cabul, durante um discurso às tropas, Sarkozy defendeu a missão, dizendo que ela era importante no combate ao terrorismo: "Temos de permanecer aqui. Nosso trabalho é vital. Uma parte da liberdade do mundo está em jogo aqui", disse Sarkozy, que também deu um recado a outros líderes europeus, pedindo o envio de mais soldados para a missão no país.

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