PUBLICIDADE

Fogo arrasa símbolo do ''boom'' chinês

Torre destruída integra o mais moderno complexo arquitetônico de Pequim

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

O mais ousado projeto arquitetônico levantado por Pequim para a Olimpíada de 2008 foi parcialmente destruído ontem por um incêndio que consumiu uma torre de 30 andares no complexo que abrigará a nova sede da rede de televisão estatal CCTV, desenhado pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas. O fogo atingiu a torre batizada de Television Cultural Center (TVCC), que teria estúdios de gravação, um teatro com capacidade para 1.500 pessoas, cinemas digitais, salão de baile, local para exposições e um hotel cinco estrelas. O prédio que pegou fogo fica ao lado de uma das estruturas mais originais do mundo, formada por duas torres inclinadas e conectadas pela base e o topo, formando uma espécie de "loop" anguloso. O complexo, situado numa das áreas mais valorizadas de Pequim, seria inaugurado nos próximos meses. O incêndio teve início no alto do edifício por volta das 20h30, mas a reação das autoridades foi lenta e confusa. A reportagem do Estado chegou ao local antes dos bombeiros. Os primeiros carros do Corpo de Bombeiros que chegaram ao local não eram equipados com escadas para levar a água aos andares mais altos e jatos potentes só começaram a ser vistos depois das 22h30. A polícia demorou para interromper o trânsito nas ruas ao redor do complexo e o local só foi isolado depois das 22h40, quando labaredas gigantescas consumiam o prédio de alto a baixo. Até o início da madrugada de terça-feira o governo não havia dado nenhuma informação sobre as prováveis causas do incêndio nem confirmado se há vítimas. CENSURA A imprensa oficial chinesa ignorou o assunto até as 22h15, horário local, quando inúmeros internautas já haviam divulgado fotos e comentários sobre a destruição do prédio. As centenas de pessoas que se aglomeravam na frente da construção tiravam fotos e mandavam mensagens de celulares. Na medida em que a informação se espalhava, mais e mais pessoas se aglomeravam nas proximidades do complexo, que em razão de seu formato é chamado pela população de "cueca de ferro" - dakucha em chinês. O fogo começou quando os moradores de Pequim bombardeavam o céu com fogos de artifício para celebrar o Festival da Lanterna, que marca o fim dos 15 dias de festas do ano-novo chinês. As chamas espalharam-se rapidamente pelo prédio. Na internet, a maioria dos comentários atribuía o incêndio aos fogos de artifício, o que faria do prédio um caso único de vulnerabilidade numa época em que a cidade fica tomada pelas explosões de rojões e foguetes. O texto divulgado pela agência oficial de notícias Xinhua acabou alimentando essa versão, ao afirmar que testemunhas viram pessoas soltando fogos de artifício ao redor do prédio por volta das 20 horas, 30 minutos antes do início do incêndio. Normalmente, as autoridades chinesas exercem forte controle sobre o uso de pólvora e explosivos na periferia de Pequim, mas a restrição é relaxada durante as festas de ano-novo. A ideia original do governo chinês era utilizar a TVCC para as transmissões da CCTV durante a Olimpíada, mas o complexo não ficou pronto a tempo para o evento. PRESTÍGIO A intenção do governo chinês é transformar a CCTV em uma rede de alcance internacional, nos moldes da BBC britânica, e a nova sede faz parte do esforço de busca de prestígio para a emissora - totalmente sujeita à censura e aos interesses políticos das autoridades de Pequim. O complexo consumiu investimentos estimados em US$ 600 milhões. A torre destruída custou cerca de US$ 100 milhões.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.