Foi mesmo uma gafe de Kerry que lançou proposta russa?

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Por ANÁLISE: Joshua Keating e SLATE
Atualização:

Parece que o plano russo de destruição do arsenal químico de Damasco, detendo uma ofensiva militar americana, é o resultado de um comentário desastrado do secretário de Estado John Kerry (uma gafe, se preferirem). Ele sugeriu a jornalistas que, se o regime de Bashar Assad desistisse de suas armas, o plano de ataque seria suspenso. Rapidamente, sírios e russos disseram que aceitavam a oferta. Mas vale reler o artigo na edição de 1.º de setembro do Haaretz - pouco notado na época - em que o jornalista israelense Barak Ravid indicou que estava sendo preparado um acordo muito similar ao que vem sendo discutido. Afinal, tanto o presidente americano, Barack Obama, quanto o russo, Vladimir Putin, estão interessados em uma solução diplomática. Obama não está entusiasmado com um ataque à Síria. Ele falou à rede CNN sobre a necessidade de responsabilizar Assad pelo "assalto à dignidade humana" e defendeu a proibição de armas químicas. Mas também fez questão de afirmar que não há pressa, pois um ataque "será eficiente amanhã ou daqui a um mês". Do ponto de vista do presidente Putin, uma solução diplomática como a que ele defende fortaleceria a posição internacional da Rússia e, o que é mais importante, impediria que ela fosse humilhada. Um duro ataque americano mostraria ao mundo que a tecnologia militar dos EUA é superior à russa, representaria um posterior enfraquecimento do regime de Damasco, aliado de Putin, e provaria que a Rússia não tem muita influência. Considerando a reação dos funcionários americanos - incluindo o próprio Kerry - desde os comentários de Moscou, acho difícil acreditar que isso fazia parte de um grande projeto. Parece mais uma estratégia montada apressadamente. Mas é possível que em São Petersburgo tenham acontecido mais coisas do que nós pudemos perceber. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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