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''Fomos vítimas da xenofobia''

Pai de brasileira atacada na Suíça diz que cabe ao País pedir esclarecimento de governo estrangeiro sobre agressão

Por Denise Chrispim Marin e Rui Nogueira
Atualização:

O ex-professor universitário e assessor parlamentar Paulo Oliveira, pai da brasileira Paula Oliveira, atacada por três skinheads na Suíça, disse ontem ao Estado que está "chocado". Paulo desembarcou na manhã de ontem em Zurique. "O obstetra cuida das sequelas do aborto sofrido pela Paula e hoje à tarde (ontem) o hospital convocou-a para tomar um coquetel antiviral", contou. O Itamaraty recomendou à cônsul-geral do Brasil na Suíça, Vitória Clever, que pressione as autoridades. O Brasil só fará um protesto oficial se confirmada a motivação neonazista do grupo. A seguir os principais trechos da entrevista: O que o sr. sentiu quando viu o estado em que ficou sua filha? Fiquei completamente chocado. Fui professor universitário durante dez anos e acompanhei esses movimentos que, em tempos de crise, por serem geneticamente xenófobos, partem para esse tipo de agressão. É um filme já visto, principalmente na Europa, está tudo nos livros de História e a gente espera que isso nunca nos atinja. Mas fomos atingidos por essa xenofobia nazista. Já falou com a polícia? Eu não fui à polícia, mas conversei com a embaixadora (Vitória Clever). A polícia não se mexeu. Uma das siglas tatuadas no corpo da minha filha é de um dos partido do governo. Não sei se esse mutismo da polícia é o estilo helvético de trabalhar ou se é decorrência dos sinais de embaraço administrativo da polícia com a política. Uma conveniência. Como assim? A polícia mostrou-se mais preocupada em questionar a minha filha sobre se não havia sido ela que se mutilou. Se aquilo era real ou tinha sido fabricado. Como pode! Ela ficou em estado de choque, sofreu um aborto e perdeu as gêmeas. A Paula estava falando com a mãe ao telefone celular e acho que isso (falar em português) pode ter sido o gatilho que atraiu os agressores. Mas as torcidas organizadas (neonazistas) estavam claramente atrás do time adversário. Mas a polícia não prestou nenhum tipo de esclarecimento nem à diplomacia brasileira? Não. A embaixadora pediu verbalmente esclarecimentos, mas a polícia negou-se a dar informações. Exigiram que ela fizesse a solicitação por escrito. Ela já fez. O Itamaraty foi mobilizado pelo senador Marco Maciel (DEM-PE) e pelo deputado federal Roberto Magalhães (DEM-PE). Quais serão os próximos passos? Levar minha filha o mais rapidamente para o Brasil, lá pelo dia 19 ou 20, onde espero que ela descanse e se recupere do choque. Até porque, diante do comportamento da polícia suíça, não acho seguro ela ficar em Zurique enquanto os agressores não tiverem sido pelo menos identificados. O que o governo brasileiro pode fazer mais? Só o nosso Itamaraty tem instrumentos legais para cobrar de um governo estrangeiro o esclarecimento da agressão. Essa xenofobia, em qualquer lugar do mundo, só tem cura sendo denunciada e combatida publicamente.

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