Força Aérea do Egito sobrevoa protesto no centro do Cairo

Dois jatos e um helicóptero passaram pela praça Tahrir; coluna de tanques foi bloqueada por manifestantes.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Milhares de manifestantes tomaram a praça Tahrir no Cairo Dois jatos e um helicóptero sobrevoaram várias vezes na tarde de domingo a praça Tahrir, no centro do Cairo, onde milhares de manifestantes fazem, pelo sexto dia consecutivo, um protesto pedindo a renúncia do presidente, Hosni Mubarak. O sobrevoo dos jatos e helicópteros militares, próximos do solo, foi visto como uma possível demonstração de força dos militares egípcios. Uma coluna de tanques também foi enviada à praça, para tentar entrar no meio da manifestação, mas teve seu caminho bloqueado pelos manifestantes. De acordo com o correspondente da BBC na praça Tahrir (que significa "Libertação") Jeremy Bowen, existe uma sensação de desafio entre os manifestantes, que acusaram os militares de tentar intimidá-los. A chegada da coluna de tanques e o sobrevoo das aeronaves militares aumentou a tensão entre os milhares de manifestantes. Na manhã de domingo, apesar da presença de veículos militares blindados, os manifestantes pareciam totalmente livres na capital egípcia, sem sinais de policiamento ou da tropa de choque, com quem eles entraram em confrontos violentos nos últimos dias. Em um momento, um oficial do Exército foi carregado nos ombros dos manifestantes. O domingo é o início da semana de trabalho no Egito, mas a capital não parece estar em um dia normal, com menos pessoas nas ruas e muitas lojas, bancos e empresas fechadas. Grupos de vigilantes foram formados nos bairros, já que a polícia não é mais vista nas ruas. Os vigilantes se armaram com bastões e algumas armas, além de montar barricadas durante a noite para se proteger de saqueadores. Jatos da Força Aérea egípcia sobrevoaram a manifestação no centro do Cairo Apesar dos grupos de vigilantes voluntários, ocorreram saques em várias partes da cidade, incluindo o Museu Nacional. Os choques entre manifestantes e forças de segurança já teriam deixado cerca de cem mortos desde o início dos protestos na terça-feira. Cerca de 2 mil pessoas ficaram feridas nos choques ocorridos no Cairo, Suez e Alexandria. Em Alexandria milhares de manifestantes fizeram uma passeata perto de uma mesquita, durante o funeral de dois manifestantes que foram mortos em confrontos com a polícia no sábado. Segundo o correspondente da BBC em Alexandria John Simpson, há uma forte presença militar na cidade costeira e também muita tensão. Reunião Neste domingo, vários movimentos políticos do Egito divulgaram uma declaração conjunta pedindo que Mohammed ElBaradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e opositor do governo, forme um governo de transição. O presidente egípcio, Hosni Mubarak, se reuniu neste domingo com seus comandantes militares. Segundo o canal de televisão estatal do Egito, Mubarak e os militares revisaram as operações de segurança para conter os protestos, que são os piores das últimas décadas no país. Existe uma forte presença militar na capital, mas, até o momento, os manifestantes e os militares ainda não entraram em confronto e a atmosfera parece ser amigável, segundo Jeremy Bowen. Mubarak empossou o chefe de Inteligencia egípcio, Omar Suleiman, como vice-presidente - cargo que nunca havia sido ocupado nos 31 anos de seu governo. Já o novo primeiro-ministro será Ahmed Shafiq, que antes ocupava o Ministério da Aviação. Ele ficará responsável por formar o novo gabinete. As transmissões da TV árabe Al-Jazeera realizadas através de um satélite egípcio foram suspensas. Mais cedo, as autoridades do país tinham ordenado que a TV árabe encerrasse suas operações no Egito e suspendeu o credenciamento de jornalistas e funcionários do canal. O canal de televisão árabe tem feito uma cobertura detalhada dos protestos. O governo chegou a bloquear os serviços de telefonia celular e internet. Mas, no sábado, a telefonia celular foi parcialmente retomada e, neste domingo, a internet ainda está instável. Estados Unidos Os Estados Unidos pediram novamente que o Egito realize uma transferência de poder pacífica. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse em Washington neste domingo que quer ver uma transição para um governo democrático. Locais onde têm ocorrido os protestos no Egito "Queremos ver moderação, não queremos ver violência de nenhuma das forças de segurança", disse Clinton ao canal de televisão americano ABC News. Mais cedo, autoridades americanas começaram a organizar uma operação com aeronaves para a retirada de cidadãos americanos do país. A Turquia também vai enviar aviões ao Egito para a retirada de seus cidadãos. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou que Israel está acompanhando atentamente os eventos no Egito e que espera manter relações pacíficas com o vizinho árabe. De acordo com autoridades palestinas, a passagem de Rafah, entre o Egito e o sul da Faixa de Gaza está fechada. Estados Unidos, Grã-Bretanha e vários países europeus divulgaram alertas para que seus cidadãos cancelem viagens que não sejam essenciais para o Egito, principalmente as cidades do Cairo, Alexandria, Luxor e Suez. O turismo, uma das principais atividades econômicas do Egito, já foi afetado pelos protestos realizados no país. Militares fecharam o acesso às pirâmides de Gizé, um dos principais destinos turísticos egípcios. No aeroporto do Cairo, muitos voos estão atrasados ou foram cancelados devido ao toque de recolher. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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