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Forças armadas pesam em negociações de Colômbia e Farc

Por AE
Atualização:

O general Jorge Enrique Mora passou toda a sua vida profissional combatendo rebeldes colombianos, cujos ataques a tropas sob seu comando o forçaram a comparecer a mais funerais do que a maioria das pessoas poderia suportar.A partir de segunda-feira (15), no entanto, ele se sentará com os rebeldes para discutir paz, e o ex-comandante das forças armadas pode ter um papel crucial no sucesso ou fracasso das negociações, que começam nesta segunda-feira (15) em Oslo, capital da Noruega.Mora e outros militares foram acusados de tentar sabotar as negociações na última vez em que o governo manteve conversações para tentar encerrar seu conflito de meio século com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Durante as negociações, entre 1999 e 2002, o governo concedeu aos rebeldes uma área segura, do tamanho da Suíça, e declarou cessar-fogo, irritando Mora e os outros militares.Para o general, os rebeldes eram apenas "bandidos, traficantes de drogas e terroristas". Comandante do exército na época, Mora tornou lento o processo de retirada das tropas da área segura e os militares desafiaram repetidamente os líderes civis, ao ordenarem sobrevoos na região.Desta vez, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, optou por não excluir os soldados, e incluiu Mora entre os cinco negociadores. Ele sabe que precisa da bênção dos militares para "vender" à população, ou aos quartéis, qualquer acordo que eventualmente saia das negociações.Adam Isacson, especialista em Colômbia no Washington Office on Latin America, disse que o último processo de paz fracassou, entre outros motivos, porque o governo não tinha o comprometimento das forças armadas. Incluí-los no processo logo de início foi uma decisão acertada, opinou Isacson, porque agora eles não podem fazer como da última vez.Mora representa um grupo que também é bastante afetado pelo conflito. Todos os anos, centenas de soldados são mortos e outras centenas são mutiladas por minas. Soldados e policiais foram capturados e mantidos - em alguns casos, por mais de uma década - em prisões na selva. As Farc libertaram os últimos desses prisioneiros em abril, como uma das condições para o início de negociações secretas em Havana.O presidente da Associação Colombiana de Militares Aposentados, o ex-general do exército Jaime Ruiz, diz que o papel dos militares nas negociações é crucial. "Embora não tenhamos confiança (nos guerrilheiros), não podemos nos opor ao processo, porque o país quer paz", observou. Segundo uma pesquisa publicada no mês passado pela revista Semana, 77% dos colombianos apoiam as negociações de paz.Assim como outros militares, Ruiz ficou feliz quando Santos deixou claro que as operações militares continuarão até que se chegue a um acordo de paz que obrigue as Farc a se desarmarem. Desta vez, não haverá cessar-fogo nem uma área segura para os rebeldes.Durante as negociações de paz entre 1999 e 2002, os rebeldes continuaram a atacar as tropas de Mora fora da área segura. O general disse que as Farc continuavam a fazer sequestros e a expandir o tráfico de cocaína.Os militares também se irritaram quando o principal negociador do governo, Victor G. Ricardo, forneceu a líderes das Farc cópias de documentos legais que detalhavam acusações de abusos praticados por membros das forças armadas. As Farc exigiram que todos os soldados acusados de violação dos direitos humanos fossem julgados por tribunais civis.O tema deve vir à tona novamente, principalmente pela fama de desrespeito aos direitos humanos adquirida pelas tropas durante a transformação do exército em uma força mais profissional, durante o mandato do então presidente Alvaro Uribe, entre 2002 e 2010, com o apoio dos Estados Unidos.As forças armadas causaram grandes estragos aos rebeldes, reconquistando quase todo o território do país, reduzindo significativamente o número de sequestros e extorsões e causando uma onda de deserções entre os guerrilheiros.Centenas de militares, no entanto - inclusive alguns de alta patente - mataram sem autorização. Em alguns casos, agricultores foram mortos, e depois vestidos com uniformes e classificados como rebeldes. Até agora, de 1.948 militares acusados por mortes desse tipo, 601 foram condenados, de acordo com o ministério público. Qualquer acordo de paz terá de incluir essa sensível questão, e também o que fazer com os líderes das Farc acusados de crimes de guerra. As informações são da Associated Press

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