Forças da Síria avançam para o norte, causam êxodo e matam 32 opositores

Na localidade de Maaret al-Numan, helicópteros artilhados disparam para dispersar protesto após ativistas incendiarem tribunal e delegacia; moradores de Jisr al-Shoughour falam de campanha de destruição do Exército e 4 mil tentam entrar na Turquia

PUBLICIDADE

Atualização:

BEIRUTEForças de segurança da Síria usaram cinco helicópteros artilhados contra manifestantes no norte do país e abriram fogo durante em todo o país, matando ao menos 32 pessoas, denunciaram ativistas e opositores por telefone. A mídia estrangeira está proibida de entrar no país. A mídia turca informou que quase 4 mil sírios estão na fronteira tentando obter abrigo na Turquia, que já recebeu 2.400 refugiados nos últimos dias. A oposição síria disse por telefone à agência Associated Press que milhares de manifestantes incendiaram o tribunal e a delegacia na cidade de Maaret al-Numan, no norte da Síria, e o Exército respondeu com disparos de tanques. A TV estatal disse que "terroristas" atacaram a delegacia e mataram "vários" membros das forças de segurança na cidade.Horas depois, helicópteros sírios dispararam para dispersar os manifestantes em Maaret al-Numan, disseram testemunhas. Esta seria a primeira vez que as forças leais ao presidente Bashar Assad usam ataques aéreos contra os protestos, iniciados em março. A maioria das vítimas de ontem é de Maaret al-Numan, mas várias pessoas também foram mortas nas operações do Exército em outras localidades do norte do país, foco da tensão entre a maioria sunita do país e o governo do presidente Assad, que é alauita, seita da elite do país.Ao fim das preces de sexta-feira, falou-se num aumento nas tensões em todo o país. Houve relatos de ativistas se reunindo na região de Damasco, Latakia, Talkalakh, Homs e Deraa, cidade do sul da Síria onde os levantes tiveram início. A emissora estatal de TV da Síria falou em violentos ataques contra as forças de segurança num bairro de Damasco, assim como em Deraa. Forças de Assad também avançaram ontem na volátil cidade de Jisr al-Shoughour (norte), depois de dias de tensões que levaram a população a fugir em direção à Turquia. Os moradores já esperavam uma ação do Exército sírio depois que 120 policiais foram mortos na cidade, em um incidente que ainda não foi esclarecido. A agência estatal de notícias Sana, relatou que soldados estavam detendo membros de "grupos armados organizados", ao passo que ativistas descreveram uma campanha de terra arrasada promovida pelas forças de segurança que cercaram a cidade e começaram a avançar. No campo de refugiados de Yayladagi, no lado turco da fronteira, um sírio de 60 anos disse que outros refugiados tinham falado por telefone com parentes perto de Jisr al-Shoughour e estes relataram o início de um violento ataque. "Disseram que o Exército invadiu a cidade com todo tipo de veículo armado, e os soldados estão disparando a esmo" com tanques e armamento pesado, disse ele. "Estão também queimando em plena rua a colheita e o gado. O Exército passou por Al-Sarmaneyah e os soldados estão atirando em qualquer um que apareça pela frente. A situação lá é terrível." A instabilidade em Jisr al-Shoughour assumiu importância crítica tanto para o governo da Síria quanto para seus opositores: relatos dizem que soldados na cidade mudaram para o lado da oposição, recusando-se a disparar contra os manifestantes civis e voltando suas armas contra as unidades leais ao governo. Embora muitos dos soldados desertores pareçam ter deixado a cidade, outros permaneceram lá. E, apesar de ter culpado gangues armadas e terroristas pela violência, o governo sírio ainda parece determinado a castigar os moradores que continuam em Jisr al-Shoughour. Rami Adbelrahman, ativista sírio que mora na Grã-Bretanha, disse que a comunicação com todos seus contatos em Jisr al-Shoughour tinha sido "cortada". No início do dia ele falara com os moradores de lá, que descreveram uma campanha de destruição empreendida pelo Exército. "Estão ateando fogo aos campos por toda parte", disse ele. / NYT, AP e REUTERS

 

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.