Fóruns internacionais perdem atenção do Brasil

Sob gestão de Dilma, participação em entidades inter-regionais perdeu foco na formação de novas alianças políticas e direcionou atuação à economia

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Por Lisandra Paraguassu
Atualização:
Decepção. Dilma queria mais pragmatismo em Fortaleza Foto: Nacho Doce/Reuters

BRASÍLIA - O envolvimento do Brasil em fóruns internacionais, um dos temas preferidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu fôlego no governo de Dilma Rousseff. Desde 2003, o País se envolveu em quase uma dúzia de entidades. Aos poucos, foram sendo incorporadas ao repertório nacional novas instâncias inter-regionais, muitas delas criadas por iniciativa brasileira, como as cúpulas América do Sul-Países Árabes (Aspa) e América do Sul-África (ASA).

Com uma visão mais pragmática das relações internacionais, a presidente mostra clara preferência pelos encontros onde resultados concretos, especialmente os econômicos, podem ser atingidos.

Diplomatas ouvidos pelo Estado confirmam que o gosto do ex-presidente pelos palanques internacionais, somado a uma necessidade de encontrar novos parceiros, permitiu que o Brasil aumentasse o grupo de interlocutores.

Dilma não tem o mesmo apreço pelos meandros da diplomacia. Em 2012, quase cancelou, na véspera, a ida a Cúpula da ASPA, em Lima, para tratar de questões internas. Foi convencida pelo então chanceler, Antonio Patriota, a participar.

Os resultados, no entanto, mostram que essa aproximação, mesmo que aparentemente política, traz resultados econômicos. Desde a criação da ASPA, as exportações para o Oriente Médio passaram de US$ 6,8 bilhões, em 2005, para US$ 18,3 bilhões em 2013. Para a África, mesmo o Brasil ainda tendo um déficit, as vendas passaram de US$ 6 bilhões para US$ 11 bilhões no mesmo período.

A avaliação do Itamaraty é de que os fóruns não perderam importância, mas apenas visibilidade, já que estariam em fase de consolidação. Entre os frutos, o resultados nas eleições de José Graziano para o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e do embaixador Roberto Azevêdo para a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Dilma deixou claro desde o início do seu governo que não viajaria tanto quanto seu antecessor. Diplomatas garantem que a presidente ainda vai mais ao exterior do que se esperava, mas confirmam que sua atração é pelos resultados concretos.

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São dos anos iniciais de Lula, além da Aspa e da ASA, a consolidação da União das Nações Sul-americanas (Unasul) e os fóruns Índia, Brasil, África do Sul (Ibas) e Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics).

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Apesar de ter ido a quase todos os fóruns internacionais, Dilma demonstra atenção especial aos que tratam de temas econômicos e podem trazer proveitos ao País. Foi inegável a satisfação da presidente ao receber, há um mês, o BRICS no encontro de Fortaleza. Dilma queria de qualquer forma que a Cúpula no Brasil selasse a criação do banco de desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas, os primeiros resultados práticos do grupo, a ponto de ceder a presidência da nova instituição, já negociada, para a Índia, evitando um impasse maior.

Dilma tem, ainda, especial apreço pelos encontros do G20, o grupo de nações com as maiores economias mundiais, onde se discute basicamente assuntos econômicos.

A Unasul, com seu lado mais político, não atrai tanto a atenção da presidente. Em 2012, desistiu de ir a Lima, no Peru, na última hora, alegando compromissos. Em 2013, no Suriname, passou apenas oito horas no país e concentrou a maior parte do seu tempo em reuniões bilaterais. Este ano, no Uruguai, é possível que falte. Dessa vez, por conta da eleição. O fórum, mais político, raramente tem resultados mais concretos. A presidente, no entanto, fez questão de ir a um encontro de emergência no Peru, em 2012, quando o grupo se reuniu para dar apoio ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que tinha questionada sua posse como sucessor de Hugo Chávez.

Formado pelas três democracias dos Brics, o Ibas era um dos fóruns preferidos de Lula, mas não recebe a mesma atenção da presidente.

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