NAYPYIDAW - A foto de um bebê que teria morrido afogado em um rio de Mianmar quando sua família, da etnia Rohingya, tentava fugir do país em direção a Bangladesh causou comoção nas redes sociais desde que foi compartilhada na quarta-feira, 4. O caso tem sido comparado com o do menino sírio Alan Kurdi, que também morreu afogado quando sua família tentava fugir do país de origem, em setembro de 2015.
Além de Mohamed Shohayet, de apenas 16 meses, seu irmão de 3 anos, a mãe dos dois, e um tio dos meninos também morreram na travessia. Em entrevista à emissora americana CNN, o pai das crianças, Zafor Alam, disse que sua vida não tem mais sentido sem a mulher e os dois filhos. "Quando vejo a foto, sinto que preferia ter morrido", afirmou Alam.
Com cerca de 1 milhão de pessoas, os rohingya são uma minoria étnica muçulmana em Mianmar que frequentemente sofre perseguição e, em muitos casos, acaba fugindo para Bangladesh. Considerados um dos povos mais perseguidos no mundo, são vistos pelo governo de Mianmar como imigrantes bengali mesmo depois de terem vivido por gerações no Estado de Rakhine.
"No nosso vilarejo, helicópteros atiraram contra as pessoas e os soldados de Mianmar também dispararam contra os moradores", afirmou Alam à CNN. "Não podíamos ficar na nossa casa. Fugimos e nos escondemos na floresta."
Ele contou que se separou da família durante a jornada e cruzou sozinho o rio Naf, que divide os dois países. Já em Bangladesh, Alam teria entrado em contato com um barqueiro para que a mulher e os filhos também pudessem chegar ao outro lado da fronteira.
"Eu liguei (para minha família) em 4 de dezembro. Eles estavam muito desesperados para deixar Mianmar", disse. "Foi a última vez que falei com eles. Enquanto conversava com minha mulher, pude ouvir meu filho mais novo falando 'Abba-Abba' (papai, papai, no idioma rohingya)."
No dia seguinte, porém, um desconhecido teria telefonado para Alam e informado sobre a morte de sua família. "Essa pessoa tirou fotos do meu filho e me enviou pelo telefone. Fiquei sem palavras", diz o refugiado.
A história relatada por Zafor Alam à CNN não pode ser verificada de forma independente em razão de o governo de Mianmar restringir o acesso ao Estado de Rakhine. Em uma resposta por escrito enviada ao canal, uma porta-voz do governo negou o relato de Alam, que qualificou como "falsa" e "propaganda".