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Fotos causam confusão sobre destino de Sakineh

Divulgação de imagens da iraniana em casa leva ONG a dizer que ela tinha sido libertada, apesar de não haver nenhum anúncio do governo de Teerã

Por Jamil Chade
Atualização:

Com base em fotos e informações não confirmadas, ativistas anunciaram ontem que a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani teria sido libertada e o governo de Teerã teria desistido de executá-la. O governo dos aiatolás silenciou e a TV estatal promete apenas para hoje revelar novas informações sobre o caso. Ontem, para anunciar um programa que vai ao ar hoje, a TV local trouxe novas fotos que supostamente seriam da iraniana em sua casa, ao lado de um de seus filhos, também preso. Sakineh foi acusada de adultério e assassinato e poderia ser executada por apedrejamento.As especulações sobre o destino da iraniana começaram quando o Comitê Internacional contra Execuções, uma ONG de Berlim, anunciou ter recebido notícias da libertação, que teria ocorrido no dia 6. A esperança cresceu depois que as fotos foram ao ar ontem, exatamente para anunciar o programa de hoje. Nas fotos, Sakineh aparece de forma relaxada em sua casa, na cidade de Osku, noroeste do Irã. A Agência France Presse, porém, apurou que as imagens foram feitas entre os dias 4 e 5. A razão da visita à casa seria, na verdade, a obtenção de mais provas contra ela. Em uma chamada do programa, ela aparece dizendo: "Nós planejamos matar meu marido." A frase fez ressurgir a tese de que ela confessaria no programa a participação na morte do marido, como já ocorreu em outras três ocasiões. "No Irã tudo pode acontecer. São quase 400 execuções por ano", afirmou Maryam Namazie, ativista iraniana na Europa.O que faz os ativistas ainda acreditarem em sua liberação é que a confissão poderia ser seguida pelo anúncio de que a família do marido morto a teria perdoado, o que a liberaria da pena de morte.Outro ponto que sustenta a esperança são as recentes declarações de Teerã. Há uma semana, o governo do Irã deu a primeira indicação de que Sakineh poderia ser poupada. Há um mês, o governo iraniano convidou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a uma visita ao Irã. Teerã ainda soltou ontem um blogueiro que estava preso e, para completar, o governo aceitou nesta semana retomar as negociações sobre seu programa nuclear."Tudo isso mostra que há algo ocorrendo e o governo iraniano está sentindo a pressão", afirmou Mina Ahadi, presidente do Comitê, em declarações ao Estado. Horas antes, ela havia afirmado que a "libertação" de Sakineh marcava "o dia mais feliz" de sua vida e chegou a agradecer ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff pelo apoio.Sakineh foi primeiro condenada a receber 99 chibatadas por ter traído seu ex-marido em 2006. Mas logo seu processo foi reaberto e ela foi condenada à morte por apedrejamento.

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