10 de dezembro de 2010 | 00h37
Com base em fotos e informações não confirmadas, ativistas anunciaram ontem que a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani teria sido libertada e o governo de Teerã teria desistido de executá-la. O governo dos aiatolás silenciou e a TV estatal promete apenas para hoje revelar novas informações sobre o caso.
Ontem, para anunciar um programa que vai ao ar hoje, a TV local trouxe novas fotos que supostamente seriam da iraniana em sua casa, ao lado de um de seus filhos, também preso. Sakineh foi acusada de adultério e assassinato e poderia ser executada por apedrejamento.
As especulações sobre o destino da iraniana começaram quando o Comitê Internacional contra Execuções, uma ONG de Berlim, anunciou ter recebido notícias da libertação, que teria ocorrido no dia 6. A esperança cresceu depois que as fotos foram ao ar ontem, exatamente para anunciar o programa de hoje. Nas fotos, Sakineh aparece de forma relaxada em sua casa, na cidade de Osku, noroeste do Irã. A Agência France Presse, porém, apurou que as imagens foram feitas entre os dias 4 e 5.
A razão da visita à casa seria, na verdade, a obtenção de mais provas contra ela. Em uma chamada do programa, ela aparece dizendo: "Nós planejamos matar meu marido." A frase fez ressurgir a tese de que ela confessaria no programa a participação na morte do marido, como já ocorreu em outras três ocasiões.
"No Irã tudo pode acontecer. São quase 400 execuções por ano", afirmou Maryam Namazie, ativista iraniana na Europa.
O que faz os ativistas ainda acreditarem em sua liberação é que a confissão poderia ser seguida pelo anúncio de que a família do marido morto a teria perdoado, o que a liberaria da pena de morte.
Outro ponto que sustenta a esperança são as recentes declarações de Teerã. Há uma semana, o governo do Irã deu a primeira indicação de que Sakineh poderia ser poupada. Há um mês, o governo iraniano convidou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a uma visita ao Irã. Teerã ainda soltou ontem um blogueiro que estava preso e, para completar, o governo aceitou nesta semana retomar as negociações sobre seu programa nuclear.
"Tudo isso mostra que há algo ocorrendo e o governo iraniano está sentindo a pressão", afirmou Mina Ahadi, presidente do Comitê, em declarações ao Estado. Horas antes, ela havia afirmado que a "libertação" de Sakineh marcava "o dia mais feliz" de sua vida e chegou a agradecer ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff pelo apoio.
Sakineh foi primeiro condenada a receber 99 chibatadas por ter traído seu ex-marido em 2006. Mas logo seu processo foi reaberto e ela foi condenada à morte por apedrejamento.
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