Fracassa reunião de Saá com governadores

Governadores de províncias grandes isolam presidente argentino

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Por Agencia Estado
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Terminou sem soluções e com muito mau-humor a reunião entre o presidente interino da República, Adolfo Rodríguez Saá, e os governadores do Partido Justicialista (Peronista), realizada na residência presidencial do balneário de Chapadmalal. A reunião havia sido convocada por Rodríguez Saá para discutir com os governadores a formação do novo gabinete de ministros ? eliminando os integrantes suspeitos de casos de corrupção e colocando homens de confiança dos governadores - além de medidas para tirar o país da grave crise social e financeira. Outro ponto da agenda era a antecipação das eleições presidenciais, marcadas originalmente para o dia 3 de março, mas que diversos governadores peronistas desejam realizar no dia 17 de fevereiro. A explicação oficial para o fracasso da reunião, que entrou em recesso e continuaria hoje na capital argentina, foi o mau tempo que impediu a chegada de diversos governadores ao balneário. No entanto, a explicação extra-oficial é que a ausência dos principais nomes do peronismo havia sido uma demonstração de força dos verdadeiros caudilhos do partido, indispostos com a excessiva autonomia e ambição de Rodríguez Saá. O pacto original dos peronistas no dia de sua posse, no Domingo anterior, havia sido de colocar Rodríguez Saá como presidente interino do país, realizar eleições presidenciais no dia 3 de março de 2002 e a posse do novo presidente no dia 5 de abril. Este novo presidente governaria até dezembro de 2003, completando o mandato inacabado do ex?presidente Fernando De la Rúa. Mas Rodríguez Saá, ao longo da semana, mobilizou seus assessores para aplicar uma manobra política e jurídica que suspendesse as eleições, de forma a permitir sua permanência no cargo até 2003. A manobra irritou os caciques do partido, que pretendem disputar as eleições de março. Com suas ausências na reunião de ontem tentaram colocar Rodríguez Saá em ?seu devido lugar?. ?Você não passa de um presidente interino? foi a síntese do recado dos governadores, que recuperaram seu protagonismo nas decisões da política nacional. Os governadores também estão preocupados pela saraivada de anúncios econômicos realizados por Rodríguez Saá ? incluindo a criação de um milhão de postos de trabalho - que dificilmente poderiam ser cumpridos. O temor dos peronistas é que um fracasso acelerado de seu correligionário poderia causar o afundamento de todos os peronistas. Do total dos governadores peronistas, entre os nomes de peso estava somente Carlos Ruckauf, da província de Buenos Aires. Também esteve ali o governador de Salta, Juan Carlos Romero, entre outros três governadores de províncias menores e o presidente do Senado, Ramón Puerta. No entanto, ausentaram-se os governadores das província de Córdoba, José Manuel de la Sota e de Santa Fe, Carlos Reutemann. Também não foi até Chapadmalal o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner. Todos estes são candidatos às eleições presidenciais de março. Ruckauf foi o único dos presentes que também está na lista dos presidenciáveis. Reutemann, um dos ausentes, declarou que realizar as eleições em março é ?um futuro muito distante. Falar sobre o dia 3 de março é um exercício de futurologia?. Segundo o taciturno governador e ex?piloto de Fórmula 1, ?o futuro imediato do país é complicado e imprevisível?. Reutemann alertou para um possível ?caos institucional? que poderia ocorrer ?caso o governo não dê uma resposta ao povo?. Além de amargar a reprimenda dos caciques peronistas, Rodríguez Saá teve que suportar um panelaço realizado pelos vizinhos do balneário de Chapadmalal, aos quais acrescentaram-se turistas que haviam ido até ali para esperar o ano novo. Fontes governamentais presentes às reuniões sustentaram que no meio das discussões com os governadores, Rodríguez Saá teria ameaçado renunciar, caso não conseguisse apoio para governar nos três meses que lhe restam. Rodríguez Saá até perdeu o apoio do ex-presidente Carlos Menem, que no meio da semana o visitou na Casa Rosada para declarar-lhe respaldo. Ontem, Menem ? que não foi convidado à reunião de Chapadmalal - sustentou que Rodríguez Saá ?deu um passo em falso? ao declarar a suspensão do pagamento da dívida externa pública. ?Essa medida isolou a Argentina do resto do mundo?, disparou ?El Turco?, como é conhecido o ex-presidente. Altos e Baixos Exatamente uma semana depois de tomar posse como presidente interino, Rodríguez Saá encontrava-se ontem no pior momento de seu breve governo. Sete dias antes, havia surpreendido os argentinos e seus correligionários peronistas com um discurso impactante, no qual anunciava a suspensão do pagamento da dívida externa pública e a criação de uma nova moeda, momentaneamente suspensa. Mas já na sexta-feira, o show político de Rodríguez Saá começou a sair do compasso, e no sábado teve que enfrentar seu primeiro panelaço, realizado espontaneamente pela classe média de Buenos Aires. O sorriso permanente que o novo presidente ostenta incansavelmente começou rapidamente a ficar amarelo.

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