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França cancela negociações sobre imigração e Macron diz que Johnson não é ‘sério’

Países discutiriam crise no Canal da Mancha, onde naufrágio de barco matou ao menos 27 imigrantes

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Por Redação
Atualização:

A França cancelou nesta sexta-feira, 26, as negociações que travaria com o governo britânico sobre a crise de migração no Canal da Mancha, com o presidente francês, Emmanuel Macron, acusando o premiê britânico, Boris Johnson, de não ser “sério”, em uma deterioração significativa do relacionamento entre os dois países, já severamente balançado pelo Brexit.

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O ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, não participará do encontro que teria neste domingo, 28, com seu homólogo do Reino Unido, Priti Patel. Em vez disso, ele se concentrará nas negociações com os ministros da União Europeia, disse Macron a repórteres durante uma visita a Roma. O presidente francês também criticou Johnson por postar no Twitter uma carta que escreveu exigindo que a França recebesse os migrantes de volta.

“Fico surpreso com os métodos quando eles não são sérios. Um líder não se comunica com outro por tweets ou carta que é tornada pública”, disse Macron. A França tratará de trabalhar com os britânicos "se eles decidirem levar a sério" a questão, acrescentou.

Ao comunicar o cancelamento da reunião, Darmanin disse a Patel que a carta de Johnson foi uma “decepção”. “Torná-la pública tornou tudo ainda pior. Portanto, preciso cancelar nossa reunião em Calais no domingo”, escreveu.

O porta-voz oficial do governo francês, Gabriel Attal, levou as críticas à carta à televisão francesa, onde a classificou como "medíocre em termos de conteúdo e totalmente inadequada no que diz respeito à forma".

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o premiê britânico Boris Johnson não é 'sério'; Reino Unido e França entram em conflito sobre crise no Canal da Mancha Foto: Yara Nardi/REUTERS

O Reino Unido e a França se enfrentam em uma série de questões, principalmente políticas e comerciais, desde o Brexit. Também existem tensões pessoais entre Johnson e Macron, evidentes na crise gerada após a Austrália decidir, em setembro, abandonar um contrato de submarino francês em favor de um acordo com os EUA e o Reino Unido.

Em outra disputa que também deriva da intensificação da animosidade entre os dois países, os pescadores franceses bloquearam o acesso aos portos no norte da França para tentar aumentar a pressão sobre o Reino Unido por causa das licenças de pesca pós-Brexit. Eles também obstruíram a rampa que conduz ao terminal de carga Eurotunnel, entre o Reino Unido e a França, nesta sexta-feira. Os policiais disseram que não houve tensões nem violência. Na extremidade britânica, o tráfego fluía livremente para o terminal, sem relatos de atrasos.

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A divisão mais ampla entre o Reino Unido e a França tem dificultado os esforços para uma abordagem conjunta à crise do Canal da Mancha. Depois que pelo menos 27 migrantes morreram após um barco virar na última quarta-feira, 24, Johnson criticou a França por não fazer o suficiente para impedir as pessoas de fazerem as travessias.

Na carta que o primeiro-ministro escreveu a Macron na quinta-feira, ele definiu cinco medidas que disse que poderiam ser tomadas em conjunto para evitar outra tragédia. Elas incluem patrulhas conjuntas, implementação de tecnologia mais avançada e melhor compartilhamento de emergência. 

“Um acordo com a França para receber de volta os migrantes que cruzam o Canal por esta rota perigosa teria um impacto imediato e significativo”, escreveu ele na carta.

A França já rejeitou repetidamente a ideia de patrulhas conjuntas por motivos de soberania. A ideia de um acordo de devolução também é politicamente sensível -- no Reino Unido e em toda a Europa.

O secretário de Transportes do Reino Unido, Grant Shapps, disse esperar que a França "reconsidere" sua decisão de afastar Patel das negociações. "Acho que simplesmente nenhuma nação pode lidar com isso sozinha", disse ele à BBC TV, acrescentando que "é do nosso interesse e dos interesses deles" resolver o problema. /WP

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