França começa a julgar suposta seita suicida

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Por Agencia Estado
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Com apenas um acusado no banco dos réus, um tribunal da cidade francesa de Grenoble iniciou nesta terça-feira o julgamento da chamada Ordem do Templo Solar - seita envolvida em três duvidosos suicídios coletivos de 74 pessoas em três países (França, Suíça e Canadá) na década de 90. O acusado é o diretor de orquestra Michel Tabachnik, de 58 anos. Apontado como o terceiro na hierarquia de comando da seita, ele é acusado de formação de quadrilha para assassinatos. Tabachnik nega as acusação, embora admita ter feito parte da ordem. Em 23 de dezembro de 1995, os corpos calcinados de 16 pessoas foram encontrados na floresta de Vercors, na região francesa do Isére. Um ano antes, 48 membros da seita haviam morrido de forma semelhante - em incêndios provocados em dois chalés nos cantões suíços de Fribourg e Valais. No Canadá, dez adeptos da seita tiveram a mesma sorte - cinco deles em março de 1997, no incêndio de uma casa em Saint Casimir. Todas essas mortes violentas e seu real objetivo estão no centro dos debates do julgamento. Isso porque muitas dúvidas não puderam ser desfeitas na fase de instrução - incluindo as transações financeiras efetuadas pelos dirigentes da seita. Antigo assistente do músico Pierre Boulez, Tabachnik é o último remanescente da direção da ordem. Os outros líderes conhecidos, Joseph Di Mambro e Luc Jouret, morreram. Seus corpos apesar de carbonizados, foram identificados. Tabachnik protesta contra sua presença no banco dos réus. Argumenta que sua primeira mulher, Christine, mãe de seus dois filhos, morreu numa das "chacinas da Ordem do Templo Solar". Ele destaca ainda que, após as tragédias, sua carreira profissional foi praticamente encerrada. Ninguém mais o convidou para participar de concertos. Hoje, Tabachnik não passa de um modesto professor de música na Dinamarca. Se o tribunal o declarar culpado, poderá ser condenado a 10 anos de prisão. Após a morte dos líderes, ele diz ter sido transformado no bode expiatório do caso. Em Grenoble, o antigo campeão de esqui Jean Vuarnet, cuja mulher, Edith, e um filho, Patrick, morreram num dos incêndios, foi representado na primeira audiência por Alain Vuarnet, também seu filho. Falando em nome de outros parentes das vítimas, Vuarnet pediu adiamento do processo. Ele argumentou estar convencido de que não se trata de suicídios, mas de assassinatos em massa - referindo-se a perfurações de bala encontradas nos corpos de várias vítimas. Muitas críticas são feitas às investigações policiais, suspeitando-se do envolvimento nelas de uma rede mafiosa vinculada a certos meios policiais. Entre as vítimas da floresta do Vercors estavam dois funcionários do Ministério do Interior.

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