A França completa hoje seis meses em estado de emergência, o regime de exceção marcado pelo maior esquema de segurança da Europa Ocidental e pelo arsenal de leis antiterror mais repressivo do continente. Trata-se de uma reação aos atentados de 13 de novembro em Paris e Saint-Denis, que deixaram 130 mortos. Para o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, o aparato é necessário porque a ameaça persiste e é “muito elevada”.
O regime de exceção foi renovado pela segunda vez e vai vigorar pelo menos até 26 de julho, após a final da Eurocopa 2016, o torneio de seleções que acontecerá no país. Desde que foi implementada, a medida ampliou os poderes da polícia, do Ministério Público e da Justiça para investigar e combater células terroristas do grupo jihadista Estado Islâmico em solo francês.
Além das medidas já previstas no estado de emergência, a Comissão Mista do Parlamento da França aprovou na quinta-feira novos dispositivos para lutar contra o crime organizado, o terrorismo e o financiamento de atividades criminosas no país. O texto será votado na Assembleia Nacional e no Senado até 25 de maio e, ao entrar em vigor, consolidará disposições do regime de exceção, como a prisão domiciliar de até um mês pessoas que tenham integrado grupos terroristas na Síria e no Iraque, ou a prisão de até quatro horas, sem advogado, de qualquer pessoa sobre a qual pairem suspeitas de “comportamento ligado à atividade terrorista”.
Segundo o ministro da Justiça, Jean-Jacques Urvoas, o texto “atualiza os meios de prevenção e de luta contra o crime organizado e o terrorismo”. “Ele garante uma melhor detecção e gestão da radicalização”, disse.
A preocupação do governo é com as perspectiva de que os atentados se repitam. Nos seis meses de estado de emergência, o controle de fronteiras foi retomado e 17,5 mil pessoas foram impedidas de entrar no território – no período, 33 milhões de pessoas passaram por controle de identidade nos pontos de entrada no país.
“Estamos fazendo tudo para proteger a França”, assegura Cazeneuve, que contabiliza 15 planos de atentados desbaratados desde 2013. O ministro justifica as medidas pelo risco. “A ameaça continua muito elevada”, diz. ONGs como a Anistia Internacional, entretanto, denunciam os excessos da luta interna contra a ameaça representada pelo EI na França.
O certo é que nas ruas de Paris a ameaça terrorista é recorrente no discurso de muitos parisienses e a queda no número de turistas é um reflexo internacional. Em abril, a queda na reserva de hotéis foi de 19,6%, segundo Vanguelis Panayotis, diretor de desenvolvimento da consultoria MKG. “Faz ao menos 15 anos que não temos uma baixa tão clara em Paris”, afirma