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França devolverá 26 dos milhares de artefatos saqueados em colonização da África

Governo francês financiará Museu para exibição das peças no Benin, mas acordo não permite nenhum direito mais amplo sobre 90 mil artefatos saqueados do continente no século 19

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Por Redação
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PORTO NOVO - Autoridades do Benin entraram em um acordo com o governo da França para a devolução de 26 artefatos históricos saqueados pelo Exército francês durante a colonização da África Ocidental no fim do século 19. Entre as peças, conhecidas como "Os Tesouros de Abomey", estão altares e estátuas reais levadas para a Europa em 1892, que estavam em exibição no Museu Quai Branly, em Paris, há 18 anos. 

A coleção será apresentada ao público europeu pela última vez no domingo, 26, e de lá seguirão para Benin, onde um museu está sendo construído em Abomey com auxílio do governo francês.

Um detalhe na porta do palácio do rei Glele, do Benin, do século 19, no Museu Quai Branly-Jacques Chirac, em Paris Foto: Michel Euler/AP
O trono do rei Ghezo, à esquerda, e o trono do rei Glele; obras voltarão para o Benin Foto: Michel Euler/AP

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Em 2017, o presidente francês Emmanuel Macron prometeu trabalhar para a devolução temporária ou permanente da herança africana – o que fez alguns museus europeus cogitarem doar ou emprestar itens roubados de ex-colônias. Algumas instituições, no entanto, argumentam que os artefatos foram obtidos legalmente. 

Em nota, o governo francês disse que a medida permitirá à juventude africana acesso à sua herança cultural na África e não apenas na Europa. Uma lei nesse sentido foi aprovada pelo Parlamento francês em 2020.

Em imagem de arquivo, visitante observa estátuas reais de madeira do reino do Daomé, do século 19, no Museu Quai Branly-Jacques Chirac, em Paris Foto: Michel Euler/AP
Visitante olha a túnica e as calças de um soldado, datadas de antes de 1892, exibidas durante exposição. Foto: REUTERS/Pascal Rossignol

A ministra da Cultura da França, Roselyne Bachelot afirmou que, com a medida, o governo de Macron pretende renovar a parceria com a África. Apesar disso, ela ressaltou que a doação se limita apenas a 26 peças e não estabelece nenhum direito mais amplo à restituição de objetos saqueados durante a colonização francesa da África Ocidental.  A assinatura do acordo está marcada para o dia 9, em Paris.

Para o curador do Museu Histórico de Ouidah, no Benin, Calixte Biah, outros países devem seguir o exemplo do governo francês e devolver artefatos históricos e artísticos saqueados durante o processo de neocolonização da África, no século 19, quando potências europeias da época, especialmente França, Bélgica e Reino Unido, colonizaram grande parte do continente.

Adorno do tesouro real do reino de Abomey, exibido no museu Quai Branly, em Paris. Foto: Christophe ARCHAMBAULT / AFP
Visitantes observam um altar portátil atribuído à família Lammandoucelo Aissi (1890-1892). Foto: REUTERS/Pascal Rossignol

"Seria decente que outros países que possuem artefatos africanos seguissem esse mesmo caminho da França", disse. "Temos 26 peças. Há outras. Acredito que estejamos no início de um processo."

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Um relatório do governo francês estima em 90 mil o número de peças de culturas da África subsaarianas hoje em museus do país. A maioria deles está em exibição no Quai Branly. 

No começo deste ano, a Alemanha se tornou o primeiro país europeu a devolver peças históricas ao continente africano. No caso alemão, os artefatos foram enviados à Nigéria. Na ocasião, o governo alemão atribuiu a decisão à responsabilidade moral. / W. Post e AP

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