12 de abril de 2011 | 08h09
PARIS - O ministro francês do Exterior, Alain Juppé, criticou nesta terça-feira, 12, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar ocidental, por não fazer "o suficiente" para proteger os civis líbios em seus ataques contra as tropas do governo de Muamar Kadafi.
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Em declarações à rádio France-Info antes de um encontro de ministros das Relações Exteriores da União Europeia em Luxemburgo, o ministro disse que a Otan precisa "cumprir totalmente" o seu papel no enfrentamento ao regime de Kadafi.
"A Otan quis tomar o comando militar das operações. Nós o aceitamos e (a organização) precisa cumprir o seu papel já, ou seja, impedir que Kadafi utilize armas pesadas para bombardear a população", disse Juppé.
Questionado se a aliança não está cumprindo este papel atualmente, Juppé, disse que "não suficientemente".
"E vamos levantar essa questão hoje em Luxemburgo."
A Otan se recusou a suspender os bombardeios às forças de Kadafi mesmo depois que o governo anunciou ter concordado com uma proposta de cessar-fogo da União Africana (UA).
A promessa de Kadafi foi considerada um blefe e o plano da UA foi rejeitado pelo conselho de rebeldes que se opõem ao regime.
Há relatos de que o regime continua empregando armamentos pesados para bombardear os opositores na cidade de Misrata, no oeste do país, e os temores são de que as ações façam vítimas entre a população civil.
Em linha com as declarações do ministro francês, o chanceler britânico também defendeu nesta terça-feira que a comunidade internacional "mantenha e intensifique" a pressão sobre Kadafi através da Otan.
O ministro William Hague disse que, nas últimas semanas, as forças britânicas forneceram mais aeronaves para atacar alvos no chão, e pediu que "outros países também façam o mesmo".
Plano fracassado
Na segunda-feira, 11, os rebeldes rejeitaram o acordo de cessar-fogo proposto pela União Africana, já que a proposta não previa a saída imediata de Kadafi e de seus filhos do poder.
O representante do Conselho Nacional de Transição, Mustafa Abdel Jalil, disse que "a iniciativa fala de reformas a partir de dentro do sistema líbio, e isso está descartado".
A UA é criticada por normalmente se alinhar com os líderes africanos, mesmo os menos populares.
O plano previa "a interrupção imediata das hostilidades; a cooperação das autoridades líbias para facilitar a assistência humanitária para a população necessitada; a proteção de migrantes; diálogo entre as partes e estabelecimento de um período de transição, com vistas a adotar as reformas políticas necessárias para acabar com a atual crise".
Enquanto os combates prosseguem, o ex-ministro do Exterio líbio, Moussa Koussa, que está na Grã-Bretanha, alertou para a possibilidade de a Líbia entrar em uma espiral de "guerra civil" e se tornar um "estado falido", a exemplo da Somália.
Em um comunicado feito à BBC - a primeira manifestação pública desde que fugiu da Líbia e pediu abrigo em território britânico - o ex-ministro de Kadafi defendeu uma solução que mantenha o país "unido".
"Peço a todos que evitem levar a Líbia para uma guerra civil. Isso levaria a um grande derramamento de sangue e a Líbia poderia se tornar uma nova Somália", disse.
"Mais que isso, nos recusamos a dividir a Líbia. A unidade da Líbia é essencial para qualquer solução de conflito."
Moussa Koussa, que trabalhou 30 anos para Kadafi, disse que renunciou ao cargo porque "as coisas mudaram e eu não podia continuar" no governo.
Questionado sobre as declarações do ex-ministro do exterior, o ministro líbio para Assuntos Sociais, Ibrahim Zarouk al-Sharif, disse que não podia falar sobre o tema enquanto Moussa Koussa permanecer "capturado" em um "país hostil".
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