França e Alemanha discutem União Européia

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

De tempos em tempos, os dirigentes franceses e alemães sentem necessidade de ir ao restaurante juntos. Foi o que fizeram hoje. É sinal de que as coisas entre os dois países não andam bem. O local desse "jantares" de reconciliação é sempre muito simbólico. Dessa vez, não podia ter sido melhor: um pequeno restaurante da Alsácia, ou seja, de uma região limítrofe dos dois países e que, em 120 anos, já mudou cinco vezes de nacionalidade. Os alsacianos (atualmente franceses) falam francês ou alemão. O chucrute do jantar de desta quinta-feira era alemão, o patê de fígado de ganso era francês. Em suma, uma bela vitória da "diplomacia gastronômica". Mas, além do chucrute e do patê, o que houve? A Alemanha unificada, forte e um tanto arrogante de Gerard Schroder e a França de Chirac-Jospin dissiparam as nuvens, as grandes nuvens, as enormes nuvens que escurecem, há anos, o céu comum aos dois países? O que disseram quando se despediram? Um disse "uma refeição fraterna, sincera", e o outro respondeu "uma refeição útil". Bom! Bom! Mas e além dessas bajulações? É possível facilmente imaginar que uma refeição, por mais "agradável" que seja, é bem imprópria para tapar o fosso muito profundo que se abriu desde a chegada de Schroder. Por que esse fosso? Um motivo psicológico: Chirac não detesta Schroder e Schroder não odeia Chirac. Mas daí a se amarem há uma distância! E isso não é o mais grave. O mais grave é a Europa, a União Européia. No entanto, os três homens (um alemão, Schroder; dois franceses, Chirac e Jospin) têm, no que diz respeito à Europa, algo em comum. Eles não têm a religião da União Européia (ao contrário de Adenauer ou de Mitterrand há muito pouco tempo). Há dois anos, Schroder ainda era quase um "eurocético". Chirac, na época em que ainda era gaullista, obviamente não gostava, absolutamente, da Europa. E Jospin também não. Somente depois que entraram "nos negócios", os três homens se converteram, em diferentes graus, à Europa. Chirac, sem entusiasmo. Jospin, com sua frieza de sempre. A conversão do alemão Schroder à Europa ou, sobretudo, a de seu ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, foi mais impetuosa. E aí está a grande "fissura". Os franceses continuam ligados ao Estado nacional, não aceitam facilmente abandonar a soberania. Os alemães (principalmente Fischer), ao contrário, militam por uma Europa federativa, em que as soberanias nacionais aos poucos se dissolveriam. Mas, além dessas divergências teóricas, há um outro motivo de desconfiança: a União Européia, que desde sua origem era mais "do Sul", vê seu eixo de gravidade alterado bruscamente para o Norte, com o progresso surpreendente de uma Alemanha reunificada e a entrada de países do Norte (Suécia, Áustria etc.). E a próxima "ampliação", que vai elevar o número de membros da União Européia de 15 (atualmente) para 21 ou para 27, vai fazer a construção européia oscilar totalmente para a Europa Mittel (Polônia, República Tcheca etc.). Ao mesmo tempo, a Alemanha vai se tornar exatamente o centro da União Européia. E a França está bem circunspecta. Mas, enfim, todos os porta-vozes oficiais dos dois países nos garantem que o chucrute alsaciano estava realmente delicioso. E nem sequer pesou no estômago.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.