França e Alemanha lançam projeto comum para produção de armamentos

Iniciativa visa fabricar alta tecnologia bélica em conjunto, como aviões de caça, drones e baterias antiaéreas no horizonte 2040; parceria com britânicos sofre com o Brexit

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Por Andrei Netto CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Históricos inimigos, em especial nos séculos 19 e 20, França e Alemanha vão intensificar a colaboração militar produzindo armamentos em conjunto e compartilhando projetos e custos relacionados à Defesa. Os ministérios da Defesa dos dois países apresentaram nesta quinta-feira, dia 5, seu plano comum de desenvolvimento de material bélico, incluindo o futuro Sistema de Combate Aéreo do Futuro (SCAF), um programa que envolve aviões de caças e drones. O anúncio é um passo maior na integração militar da União Europeia.

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A ministra da Defesa da França, Florence Parly (à direita) e a ministra da Defes da Alemanha,Ursula von der Leyen (esquerda) se repunem em hotel em Paris Foto: REUTERS/Charles Platiau

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O anúncio foi feito em Paris, ao término de uma reunião bilateral entre as ministras da Defesa da França, Florence Parly, e da Alemanha, Ursula Van Der Leyen. O objetivo é alcançar o que Paris e Berlim chamam de “autonomia estratégica da Europa”, que na prática se traduz por mais independência em relação à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Desde a posse do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a aliança militar ocidental vem sendo desprestigiada por Washington, que já informou a intenção de reduzir seus investimentos.

Para compensar, França e Alemanha se engajaram em aumentar seus orçamentos militares, chegando à casa dos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) na próxima década, mas o farão dentro de um programa de integração europeu, que dê maior capacidade às Forças Armadas do continente, e com isso maior autonomia em relação à OTAN.

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Na reunião de quinta-feira, dia 5, foi selado um acordo para que os dois países passem a desenvolver em conjunto um avião de caça de nova geração, a entrar em operações a partir de 2040, em substituição ao francês Dassault Rafale e ao europeu Eurofighter Typhoon.

Dentro do projeto SCAF, estão previstos ainda a concepção e construção de drones de combate e de vigilância e de uma nova aeronave para reabastecimento em voo, entre outros armamentos considerados estratégicos. Para tanto os dois países assinarão no final de abril, durante o Salão Aeronáutico de Berlim (ILA) 2018, um acordo específico que ligará os Estados-Maiores dos dois países, o High level command operationnal requirement document.

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O documento servirá como mapa do caminho que reunião não apenas governos, mas fabricantes europeus de material bélico, como Airbus, Dassault, Thales ou MBDA. “Estou confiante que vamos poder continuar a avançar com os alemães no programa SCAF”, afirmou Florence Parly em entrevista ao jornal digital francês La Tribune. “Nós estamos definindo um certo número de tijolos tecnológicos que são precisamente identificados e que vão nos permitir prosseguir esse projeto em um perímetro diferente do que tínhamos até aqui."

A aproximação também mostra a perda relativa de importância do Reino Unido neste momento. Em decorrência do Brexit, todos os projetos de parceria militar com a França – os dois países são parceiros prioritários – estão congelados ou andando a passos lentos.

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Desde sua criação, o programa SCAF se divide em duas etapas, uma delas envolvendo a construção do drone de combate, e outra para o avião de caça. Para a primeira parte, o parceiro privilegiado era o Reino Unido e sua maior companhia de indústria bélica, a BAE Systems. Hoje a tendência é uma parceria mais ampla, incluindo a Alemanha. “É preciso antes de mais nada que consolidemos o núcleo franco-alemão”, explicou a ministra Florence Parly. “Em paralelo, deveremos prosseguir os trabalhos franco-britânicos e veremos, quando atingirem a maturidade suficiente, se podem entrar ou não no projeto SCAF. Isso será negociado com os britânicos.”

Os projetos comuns de defesa são um sinal a mais na história contemporânea de França e Alemanha de que a longa história de guerras entre os dois países, iniciada em 531 com o conflito entre o Reino Franco e os Turíngios, e encerrado com a Segunda Guerra Mundial, em 1945, tende a não se repetir tão cedo. O objetivo é de que, unidos, os dois países possam comandar um projeto maior: o da integração europeia de Defesa.