França e Rússia comprometem-se com o veto à guerra

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Por Agencia Estado
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França e Rússia anunciaram pela primeira vez explicitamente nesta segunda-feira a intenção de usar seu poder de veto no Conselho de Segurança (CS) da ONU para impedir a aprovação da resolução que dá um ultimato ao Iraque para desarmar-se - caso contrário, será alvo de uma ação militar. Essa clara ameaça, mais a indecisão de vários membros do CS, levaram os EUA, Grã-Bretanha e Espanha - os patrocinadores da resolução - a adiar sua apresentação para votação, prevista para esta terça-feira. Os governos britânico e americano estudam modificações no texto, como a extensão do prazo para o Iraque cumprir suas obrigações - fixado, semana passada, para o dia 17 - e a elaboração de tarefas claras que o país tem de cumprir, sob supervisão da ONU. Ao mesmo tempo, eles também buscam provas de que o Iraque violou as resoluções da ONU e sugerem que o chefe dos inspetores de armas da organização, Hans Blix, não incluiu em seu relatório dados cruciais que seriam uma prova dessa desobediência ao CS. Com essa investida, EUA e Grã-Bretanha têm esperança de convencer os países indecisos do CS. "Eu não espero, nas circunstâncias em que nos encontramos agora, que haja uma votação sobre nosso esboço de resolução num prazo de 24 horas", admitiu o embaixador britânico na ONU, Jeremy Greenstock. O embaixador dos EUA, John Negroponte, confirmou que os três países não mais submeterão amanhã o texto à aprovação. No início da noite de hoje, a ONU anunciou que o CS celebrará a partir de amanhã uma sessão aberta a todos os países sobre a crise iraquiana, atendendo a solicitação do Movimento de Países Não-Alinhados. Será o terceiro debate público sobre a questão em seis meses. Um outro revés para os defensores do uso da força contra o Iraque foi a indicação do Paquistão de que não votará a favor de uma resolução que abra caminho a uma guerra contra o Iraque. O país não afirmou se votará contra ou se absterá, mas, de qualquer modo, sua decisão reduz as possibilidades de os EUA e a Grã-Bretanha conseguirem os nove votos necessários para a aprovação de uma resolução no CS. Até agora, eles só contam com o voto a favor declarado da Bulgária e Espanha (co-patrocinadora da proposta). Rússia, China França, Síria e Alemanha não darão seu aval. O Chile sugeriu hoje não estar disposto a aprovar o texto nos seus termos atuais (dando um ultimato até o dia 17 ao Iraque). México, Angola, Camarões e Guiné permanecem indecisos. Dos 15 membros do CS, apenas Rússia, China, EUA, Grã-Bretanha e França têm assento permanente e poder de veto. "A França não vai aceitar essa resolução. A França votará não", disse o presidente francês, Jacques Chirac, em entrevista a TVs de seu país. "Uma guerra dessa natureza só pode, do meu ponto de vista, conduzir ao desenvolvimento do terrorismo." Horas antes, o chanceler russo, Igor Ivanov, aproveitou uma palestra a universitários em Moscou para dirimir as dúvidas sobre a posição de seu país. "A Rússia acredita que não são necessárias mais resoluções da ONU", disse Ivanov. "Portanto, declara abertamente que, se um esboço de resolução atualmente apresentado para avaliações, e que contém um ultimato que não pode ser cumprido, for encaminhado à votação, então a Rússia votará contra essa resolução." Nem Ivanov nem Chirac usaram a palavra "veto", mas esse termo também não é mencionado nos procedimentos do CS. A Carta da ONU diz: "As decisões do Conselho de Segurança deverão ser tomadas por um voto afirmativo de nove membros, incluindo os votos (afirmativos) dos membros permanentes". Ou seja, se um deles votar contra, estará vetando a resolução. Ao tomar conhecimento das intenções russas e francesas, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, disse que o presidente George W. Bush, ficaria "desapontado" se esses dois países usarem seu poder de veto. "O presidente verá isso como uma oportunidade perdida pela Rússia de adotar uma importante posição moral na defesa da liberdade", comentou Fleischer. Bush dedicou boa parte do dia de hoje a contatos telefônicos com líderes mundiais, em busca de apoio. Ele conversou com o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, e o presidente chinês, Jiang Zemin. Já o secretário de Estado, Colin Powell, almoçou hoje com o chanceler da Guiné, François Ousseynou Fall. Entre sábado e hoje ele falou com líderes da Grã-Bretanha, Angola e México, entre outros. Numa ofensiva para buscar o apoio dos indecisos, o chanceler francês, Dominique de Villepin, está visitando os três países da África que são membros do CS. O governo britânico enviará um alto funcionário a esses países esta semana. Nesta terça-feira, as nações membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reúnem em Viena para tratar da elevação da produção no caso de uma guerra contra o Iraque.

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