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França e seus aliados insistem em prestigiar a ONU

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar dos sinais cada vez mais evidentes enviados pelo presidente George W. Bush e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, neste domingo nos Açores, anunciando a iminência de uma ofensiva militar, a França e seus aliados, Alemanha, Rússia e China, insistem em prestigiar a ONU e as iniciativas de paz, convocando para a noite desta segunda-feira uma reunião do Conselho de Segurança, dispostos a lutar até o último minuto para garantir uma solução pacífica para a crise no Iraque. O ministro do Exterior francês, Dominique de Villepin, afirmou que "a guerra não mata a ONU", mesmo estando convencido de que agora se trata de uma questão de horas. Neste domingo, os Estados Unidos rejeitaram, através de seu vice-presidente, Dick Cheney, uma nova iniciativa do presidente Jacques Chirac, apoiada pelos russos, alemães e chineses e também pelo papa João Paulo II, que se associou ao trio neste domingo com um discurso idêntico. O presidente francês anunciou os pontos principais desse nova iniciativa, falando a duas redes de televisão norte americanas, e disse que ela fixa prazos definitivos (um ou dois meses), sua única concessão em relação às propostas anteriores. Esse prazo seria dado de comum acordo com os inspetores da ONU para que eles possam completar seu trabalho, mas sempre dentro do contexto da resolução 1.441, que privilegia o desarmamento pacífico do Iraque. Dominique de Villepin, mesmo em caso de guerra, não acredita no fim da ONU, pois a comunidade internacional terá sempre necessidade das Nações Unidas: "Um país pode ganhar a guerra, mas nenhum terá condições de construir sozinho a paz". Essa afirmação, segundo o ministro francês, vale para a reconstrução das estruturas do Iraque, da ajuda humanitária, da retomada da economia ou ainda para o reconhecimento do regime político. Por outro lado, transformar o Conselho de Segurança numa simples caixa de registros seria o mesmo que minar a autoridade das Nações Unidas, uma condição inaceitável para a França. Essa parece ser a tarefa atribuída pelo presidente George W. Bush, dos Estados Unidos, que ainda neste domingo, nos Açores, deu praticamente por encerrada a fase diplomática, mas convidou as Nações Unidas a participarem da segunda fase, pós-Saddam, ajudando a reconstruir o Iraque. Para os franceses, ao contrário do que disse George W. Bush, as Nações Unidas estão fazendo muito bem o seu trabalho. Para Paris, a reunião dos Açores correspondeu a um verdadeiro conselho de guerra. Os três países da "frente de rejeição" continuam se opondo a todo ultimato ao Iraque, convencidos de que "nada justifica nas atuais circunstâncias renunciar ao processo de inspeção e de um desarmamento pacífico e optar pelo recurso à força". Isso apesar de George Bush não ter admitido alterar o prazo de 17 de março, consciente de que a ONU fracassou na sua missão de encontrar uma saída pacífica para a crise. Dominique de Villepin disse ainda que o trabalho da ONU, tão criticado por Bush, é exemplar para a França e deve servir de modelo para evitar a proliferação de outras crises, inclusive a da Coréia do Norte, tendo acrescentado: "É preciso transformar o regime de inspeções da forma como está funcionando no Iraque num instrumento ideal para responder às ameaças". Segundo a visão francesa das relações internacionais, "as Nações Unidas constituem a ossatura da comunidade internacional". Neste domingo, um dos principais dirigentes da oposição francesa, o socialista Jack Lang, saiu em defesa das iniciativas do presidente Jacques Chirac, apoiando-as 100 por cento e dizendo que o presidente merece nota dez por suas ações até agora. A seu ver, uma expedição militar norte-americana no Iraque vai estimular o terrorismo e provocar uma desestabilização política e econômica nessa região do mundo. Ele não tem dúvida do resultado da ofensiva militar norte-americana, mesmo porque o Iraque vem sendo desarmado desde o fim da guerra do golfo, apesar de interrupções. A seu ver, trata-se de uma operação militar que o deixa indignado e revoltado. Ele disse não aceitar que a carta das Nações Unidas possa ser rasgada por uma ação unilateral, sem o seu aval.

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