França lança ofensiva contra o Islã radical, prende imãs e fecha mesquitas
Polícia e serviços secretos estão usando os poderes do estado de emergência, decretado após os atentados em Paris, para revistar templos, principalmente salafistas e wahabitas, suspeitos de incentivar o jihadismo ou ter ligações com o Estado Islâmico
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Por Andrei Netto CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:
Os atentados de Paris levaram o governo da França a decretar “estado de emergência” – um regime de exceção com duração de três meses que amplia os poderes das forças de ordem e da Justiça. Desde então, a polícia e os serviços secretos estão usando as atribuições especiais com um objetivo específico: perseguir o Islã radical no país.
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Mesquitas salafistas e wahabitas, como a de Sunna, em Brest, a Aicha, em Montpellier, e dezenas de locais de culto espalhados pela França foram alvos de revistas e correm risco de ser fechados, enquanto imãs considerados radicais estão sendo presos e podem ser expulsos.
A decisão de partir para o confronto foi informada pelo primeiro-ministro Manuel Valls. Cinco dias após os atentados cometidos pelo grupo terrorista Estado Islâmico, que mataram 130 pessoas e feriram 350 em Paris, o premiê prometeu enfrentar a radicalização na origem dos ataques de janeiro e novembro. “Temos um inimigo e é preciso nomeá-lo: é o islamismo radical”, advertiu Valls, apontando uma corrente fundamentalista em especial: o salafismo.
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
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Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Policias e serviço de emergência trabalham perto da Place de la Republique Foto: AFP PHOTO / DOMINIQUE FAGET
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Policiais italianos guardam a embaixada francesa em Roma, depois que ataques em Paris deixaram pelo menos 60 mortos Foto: EFE/EPA/CLAUDIO PERI
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Em uma noite de pânico e terror, ao menos três atentados simultâneos atingiram nesta sexta-feira, 13, pontos distintos de Paris e deixaram pelo menos ... Foto: Mais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Equipe de resgate ajuda uma pessoa ferida próximo ao Bataclan Concert Hall, na região central de Paris, um dos alvos dos atentados Foto: AFP PHOTO / DOMINIQUE FAGET
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Os alvos foram um restaurante, uma casa de shows e o Stade de France, palco da final da Copa de 1998. A polícia antiterrrorista francesa assumiu as in... Foto: REUTERS/Christian HartmannMais
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O presidente francês, François Hollande, que assistia no estádio ao amistoso entre França e Alemanha, deixou a partida às pressas e passou a noite no ... Foto: AFPMais
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Ao menos dois brasileiros ficaram feridos nos ataques, segundo a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis. Os dois passaram por cirurgia, já foram id... Foto: AFPMais
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O primeiro ataque foi registrado no restaurante Le Petit Camboje, de culinária cambojana, no 11º distrito da cidade. Um atirador armado com uma AK-47 ... Foto: REUTERS/Christian HartmannMais
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No Bataclan, uma casa de shows a pouco mais de 1 km do local do primeiro ataque, homens armados matarem pelo menos cempessoasque assistiam ao show da ... Foto: AFP PHOTO / FRANCK FIFEMais
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Em uma noite de pânico e terror, ao menos três atentados simultâneos atingiram nesta sexta-feira, 13, pontos distintos de Paris e deixaram pelo menos ... Foto: REUTERS/Gonazlo FuentesMais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Polícia acompanha torcedores que saiam do Stade de France, onde explosivos foram detonados durante o amistosoentre França e Alemanha, em Paris Foto: REUTERS/Gonazlo Fuentes
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Os alvos foram um restaurante, uma casa de shows e o Stade de France, palco da final da Copa de 1998. A polícia antiterrrorista francesa assumiu as in... Foto: REUTERS/Benoit TessierMais
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Policia checa identidade de homem próximo aoBataclan Concert Hallminutos depois dosataques coordenados que atingiram Paris nesta sexta-feira, 13 Foto: REUTERS/Christian Hartmann
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Especialistas forenses inspecionam um restaurante ao lado do Stade de France, um dos alvos dos ataques coordenados que atingiram Paris nesta sexta-fei... Foto: AFP PHOTO / FRANCK FIFEMais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Segundo a agência France Presse, que cita a polícia de Paris, só no Bataclan são cerca de 100 mortos Foto: REUTERS/Christian Hartmann
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Especialistas forenses inspecionam um restaurante ao lado do Stade de France, um dos alvos dos ataques coordenados que atingiram Paris nesta sexta-fei... Foto: AFP PHOTO / FRANCK FIFEMais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
No Stade de France, onde duas explosões foram ouvidas no fim do primeiro tempo do amistoso, os acessos ao estádio foram fechados. A partida terminou c... Foto: AP Photo/Christophe EnaMais
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No Stade de France, onde duas explosões foram ouvidas no fim do primeiro tempo do amistoso, os acessos ao estádio foram fechados. A partida terminou c... Foto: AP Photo/Christophe Ena)Mais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
A emissora de televisão France 24 citou relatos da polícia de que cerca de 100 pessoas morreram dentro da casa de shows Bataclan em Paris Foto: AFP PHOTO / DOMINIQUE FAGET
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Em uma noite de pânico e terror, ao menos três atentados simultâneos atingiram nesta sexta-feira, 13, pontos distintos de Paris e deixaram pelo menos ... Foto: REUTERS/Philippe WojazerMais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Os alvos foram um restaurante, uma casa de shows e o Stade de France, palco da final da Copa de 1998. A polícia antiterrrorista francesa assumiu as in... Foto: REUTERS/Christian Hartmann Mais
Múltiplos ataques deixam feridos e mortos na França
Segundo o vice-prefeito de Paris são 118 mortos nos ataques dessa sexta-feira Foto: AP Photo/Michel Euler
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Os alvos foram um restaurante, uma casa de shows e o Stade de France, palco da final da Copa de 1998. A polícia antiterrrorista francesa assumiu as in... Foto: REUTERS/Christian HartmannMais
Ataque em Paris
Policiais na cena do ataque em Paris Foto: EFE/EPA/YOAN VALAT
Ataque em Paris
Policial na cena de um dos ataques em Paris Foto: EFE/EPA/YOAN VALAT
Ataque em Paris
Resgate e médicos socorrem vítimas em um restaurante em Paris Foto: AP Photo/Thibault Camus
Ataque em Paris
Corpos de vítimas em rua de Paris em frente ao restaurante em Paris Foto: AP Photo/Thibault Camus
Ataque em Paris
Forças de segurança em Rue Bichat, em Paris Foto: AFP PHOTO / KENZO TRIBOUILLARD
Atentado em Paris
Equipes de resgate atendem vítimas de tiroteio em restaurante de Paris Foto: Thibault Camus /AP
One World Trade Center
Em Nova York, o One World Trade Center foi iluminado nas cores da bandeira da França em homenagem às vítimas dos ataques de sexta-feira, 13 Foto: AP Photo/Kevin Hagen
Senado, Cidade do México, México Foto: REUTERS/Tomas Bravo
O Anjo da Independência
O Anjo da Independência, Cidade do México, México Foto: REUTERS/Tomas Bravo
Prefeitura de São Francisco
Prefeitura de São Francisco, EUA Foto: REUTERS/Stephen Lam
A ofensiva de segurança foi possível porque o governo obteve do Parlamento a autorização para ampliar por 90 dias o período de vigência do estado de emergência. Em regime de exceção, 1,3 mil batidas e operações policiais foram realizadas sem a necessidade de autorização da Justiça, com base apenas em uma autorização administrativa emitida pelas centrais regionais de polícia. O mesmo vale para prisões, que se multiplicaram desde os ataques.
Desde então o foco das operações não deixou dúvidas. Mesquitas como a de Arbresle, próxima a Lyon, foram fechadas por “risco sério de insegurança”, em especial pela presença de salafistas supostamente com ligações com o Estado Islâmico na Síria. Na mesquita Fraternidade, na cidade de Aubervilliers, na periferia de Paris, policiais invadiram o templo situado em Boulevard Félix Faure e fizeram buscas.
Na quinta-feira, o Estado esteve no sobrado discreto, sem minaretes. Os responsáveis informaram que o imã Chiheb Harar, também presidente da Associação dos Muçulmanos de Aubervilliers, tinha sido levado em prisão preventiva após revistas que teriam “deteriorado o prédio e jogado livros religiosos no chão”.
O imã da mesquita de Aicha, em Montpellier, Mohamed Khattabi, de 55 anos, está em prisão domiciliar desde o domingo passado por supostamente ter feito “propaganda” ao jihadismo. Também na mira das autoridades está Rachid Abou Houdeyfa, de 35 anos, salafista que comanda a mesquita Sunna, em Brest. Protagonista de um vídeo gravado em setembro em que doutrina crianças, afirmando que “quem ama música é amado por Sheitan (Satã)”, Houdeyfa virou símbolo de radicalismo em um país chocado com o atentado à casa de shows Bataclan, onde 89 pessoas morreram. Horas após o ataque, o imã gravou novo vídeo no qual condena os atos terroristas. “Sou atacado pelo Estado Islâmico, pois o condeno sem trégua, e recebo ameaças de morte”, argumentou. Mesmo assim, uma petição online por sua expulsão e o fechamento da mesquita reuniu mais de 45 mil assinaturas.
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Na quarta-feira foi a vez do sírio-francês Olivier Corel, conhecido nos círculos radicais como “imã branco”, ser preso e condenado a 6 meses de prisão em regime aberto por posse de um fuzil de caça. Corel é, segundo suspeitam os serviços secretos da França, o tutor de terroristas como Mohamed Merah – que cometeu atentados antissemitas em Toulouse e Montauban, em 2012, matando sete pessoas e ferindo seis – e Fabien Clain, um dos porta-vozes europeus do Estado Islâmico.
As prisões e ameaças de fechamento de templos foram denunciadas pela União das Organizações Islâmicas da França, órgão da Irmandade Muçulmana, outra vertente ativista e ultraconservadora da religião, mas rival dos salafistas.
A controvérsia também se repete nos meios acadêmicos. Sociólogos, antropólogos e especialistas em segurança ouvidos pelo Estado se dividem sobre a eficácia da ofensiva. Para o antropólogo Samir Amghar, especialista em salafismo, a leitura ultraortodoxa do Alcorão choca, mas também afasta seus seguidores do terrorismo. Essa também é a linha de Mohamed Ali-Adraoui, cientista político do European University Institute de Florença, na Itália. “Eu me questiono se haverá um reforço do salafismo ou, ao contrário, um enfraquecimento pela partida de membros da comunidade que preferem viver em um país muçulmano”, entende.
Para Farhad Khosrokhavar, diretor de pesquisas na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e estudioso da “radicalização”, alguns salafistas, por serem fundamentalistas, “podem se tornar jihadistas, mas não são muitos”.