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França pode mudar de lado e apoiar ataque ao Iraque

Oficialmente o país é contra a guerra, mas nos bastidores já se notam sinais de flexibilidade

Por Agencia Estado
Atualização:

A França tem reafirmado que só admite uma ofensiva contra o Iraque como última alternativa. Oficialmente, o país é contra a guerra e condiciona sua participação numa campanha militar ao aval do Conselho de Segurança da ONU. Oficiosamente, entretanto, a posição francesa dá sinais de maior flexibilidade. O porta-aviões nuclear Charles De Gaulle, um importante instrumento político-militar do país deve singrar outros mares no fim de janeiro - a mesma época em que norte-americanos e britânicos esperam ter concluído seus preparativos para iniciar a ofensiva. Oficiais servindo no porta-aviões já receberam instruções para estar disponíveis naquela época - alterando projeto inicial que previa para o porta aviões uma revisão nos primeiros meses de 2003. Outra coincidência: essa é também a data da entrega do relatório dos inspetores da ONU que investigam a existência de armas de destruição em massa no Iraque. O Estado Maior francês, mesmo não tendo recebido ainda instruções precisas, tem andado muito ocupado nos últimos dias, estudando eventuais dispositivos no caso dos franceses se unirem aos norte-americanos e britânicos. Na Guerra do Golfo, os franceses só obtiveram a chamada "planificação operacional" do Pentágono poucos dias antes da guerra ter sido deflagrada - quando o então presidente François Mitterrand anunciou oficialmente a participação francesa e acabou abrindo uma crise no ministério. Seu ministro da Defesa, Jean Pierre Chevenement, abandonou o governo por discordar da decisão. Hoje, ele integra a oposição, mas continua contra a guerra: "Ela vai contribuir para desestabilizar as relações entre o Ocidente e o mundo árabe muçulmano." A seu ver, essa guerra vai também fazer o jogo do terrorismo integrista e só uma forte mobilização da opinião pública internacional, inclusive nos EUA, poderá evitá-la. Muitos parlamentares franceses da maioria atual, União da Maioria Presidencial, são favoráveis a uma integração francesa na campanha. Entre eles, cita-se Pierre Lellouche que não vê como a França possa hesitar. A tese norte-americana, recentemente difundida pelo jornal The Washington Post, confirma que no fim a França vai se alinhar à posição anglo-americana, lembrando que, apesar de Chirac discordar do discurso guerreiro de George W. Bush, sua posição não está muito afastada da defendida pela Casa Branca. Os franceses têm reafirmado que não podem ignorar o peso da hiperpotência americana e da aliança com os britânicos. Em caso de conflito, dificilmente a França poderá estar fora do teatro de operações por razões políticas e militares. Abstendo-se, os franceses estariam renunciando de sua influência numa região onde tradicionalmente sempre estiveram presentes. A França corre o risco de ficar isolada, pois a influência dos EUA é tal que Bush poderá obter apoios importantes na ONU e receber um mandato específico. Além disso, o próprio dispositivo militar recentemente não escondeu sua insatisfação pela demora francesa em participar das manobras na crise do Afeganistão. Diversos analistas consideram que se a França pretende continuar tendo um peso político internacional não pode se abster desse conflito.

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