França registra novos confrontos no 1º de Maio

Polícia e manifestantes contrários ao projeto de lei que flexibiliza o mercado de trabalho no país se enfrentaram durante marchas em Paris

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Por Andrei Netto , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

PARIS - Os desfiles de 1.º de Maio na França foram marcados neste domingo por novos confrontos entre grupos de black blocs e a polícia em Paris. Quatro dias depois de 213 pessoas serem presas por vandalismo e 60 ficarem feridas, pelo menos mais sete foram detidas ontem, segundo balanço provisório do Ministério do Interior. 

Os protestos foram realizados às margens da passeata de sindicalistas e tinham como objetivo denunciar o projeto de Lei El-Khomri, que prevê a flexibilização do mercado de trabalho no país. De acordo com a polícia, 16 mil pessoas participaram da marcha de 1.º de Maio, mas segundo a Confederação-Geral dos Trabalhadores (CGT), foram 70 mil. 

Polícia e manifestantes entram em confronto durante marcha do 1.º de Maio em Paris Foto: REUTERS/Charles Platiau

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Nos dois cenários, o número de manifestantes caiu em relação ao ano passado. A passeata foi realizada durante a tarde entre as praças Bastille e Nation. Os confrontos começaram no Boulevard Diderot, onde manifestantes mascarados e portando pedras, pedaços de asfalto e garrafas atacaram as tropas de choque gritando o slogan: “Todo mundo detesta a polícia”.

No início da noite, a Avenue du Trône foi outro local de conflitos, e mais uma vez a polícia usou com bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Em seguida, os próprios sindicatos encerraram a passeata e pediram a dispersão das pessoas para reduzir o risco de agravamento da situação. 

Ainda assim o cerco da polícia a algumas centenas de jovens continuava por volta de 21 horas (14 horas em Brasília), quando uma nuvem de gás lacrimogêneo pairava na praça.

Como aconteceu na quarta-feira, os maiores sindicatos do país responsabilizaram a polícia pelos choques. “Eu estava na passeata, e a polícia nos impediu de avançar. Isso causa nervosismo e reações da multidão que não são controláveis”, justificou o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez. 

Segundo o sindicalista, o primeiro-ministro Manuel Valls e o ministro do Interior Bernard Cazeneuve teriam dado ordens para impedir que a passeata terminasse. Além dos protestos de Paris, houve desfiles sindicais em cidades como Rennes, Bordeaux, Lille, Lyon, Bordeaux e Marselha.

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Discussões. A contestação ao projeto de lei El-Khomri vem crescendo na França à medida que se aproxima a análise do texto pelo Parlamento. Nessa semana, os deputados se reúnem para os primeiros debates, mas a agenda foi sobrecarregada por grupos de oposição que inscreveram mais de 5 mil emendas ao projeto original do governo com o intuito de alterá-lo ou dificultar seu trâmite. 

Neste domingo, a ministra do Trabalho, Miriam El-Khomri, assegurou que o governo não vai retirar o projeto do legislativo, mesmo com a resistência de sindicatos e dos movimentos políticos de esquerda radical. “O projeto conta com o apoio de sindicatos reformistas que representam a maioria dos assalariados e de um grande número de deputados progressistas”, argumentou a ministra. “Agora é a hora do Parlamento.”

O governo de Hollande ainda não tem certeza de que terá a maioria na Assembleia Nacional e no Senado para aprovar a medida, mas há três meses a ministra já havia informado a disposição do Executivo de fazê-lo passar, mesmo que por decreto.

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