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França, Rússia e China enviarão chanceleres para reunião sobre Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

Os ministros do Exterior da China, França e Rússia estarão, na sexta-feira, nas Nações Unidas para acompanhar a apresentação do relatório final do chefe dos inspetores de armas que, quase certamente, ditará o tom de um acalorado debate sobre uma guerra contra o Iraque. O embaixador americano John Negroponte disse ser provável que o secretário de Estado Colin Powell também compareça à apresentação. A Grã-Bretanha, o aliado mais próximo dos EUA, ainda não decidiu se seu secretário do Exterior, Jack Straw, participará dos debates. A crise iraquiana já fez com que os diplomatas dos países mais poderosos do mundo fossem ao Conselho de Segurança duas vezes neste ano, onde eles se confrontaram sobre se havia chegado o momento de desarmar o Iraque pela força, ou se é melhor continuar com as inspeções de armas da ONU. França, China e Rússia já disseram querer que o Iraque seja desarmado pacificamente pelos inspetores. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha consideram que Saddam Hussein não está cooperando com o processo e tem de ser desarmado pela força, se necessário. O chanceler francês, Dominique de Villepin; o russo, Igor Ivanov; e o chinês, Tang Jiaxuan, tiveram hoje suas presenças confirmadas. Em Berlim, autoridades disseram que o ministro do Exterior Joschka Fischer também viajará a Nova York. A Alemanha está na presidência rotativa do Conselho de Segurança, e Fischer deve presidir a sessão. Membros do conselho deviam decidir ainda hoje se a reunião será a portas abertas. O Movimento dos Não-Alinhados, representando cerca de 115 países, principalmente em desenvolvimento, exigiu que o conselho faça uma sessão pública. A participação das altas autoridades foi decidida depois que a França, apoiada pela Rússia e China, lançou uma ofensiva diplomática contra os Estados Unidos, apresentando um plano que pede o fortalecimento das inspeções de armas como forma de fazer frente à esperada pressão dos EUA por uma resolução da ONU autorizando o uso da força contra Saddam. A proposta tem o apoio da Rússia, Alemanha, México e vários outros membros do CS que acreditam que o Iraque ainda pode ser desarmado pacificamente. Os EUA e a Grã-Bretanha rejeitaram o plano francês. "Acreditamos que o Iraque simplesmente não coopera sinceramente com nenhum aspecto do processo de inspeção", julgou Negroponte, o enviado dos EUA. "Portanto, acrescentar alguns poucos inspetores não vai, em nossa visão, ter muito significado, se você não tem o ingrediente essencial, que é a submissão iraquiana". O britânico Straw tem dito que a idéia de fortalecimento das inspeções é "uma receita para adiamentos". Mas Wang sublinhou que "a China tem declarado com muita clareza que apoiamos a continuidade das inspeções, e pensamos que deveríamos tomar medidas para reforçar o trabalho dos inspetores - para torná-lo mais efetivo". Para ele, o reforço pode ser feito através de algumas medidas "muito boas" contidas na proposta francesa. O plano da França apresentado na noite de terça-feira pede que seja triplicado o número de inspetores, a fim de tornar as inspeções mais objetivas e profundas, aumentando desta forma sua eficiência. A França também pediu por um significativo reforço das unidades de segurança a fim de monitorar locais suspeitos; mais tradutores árabes; equipes alfandegárias móveis para checar bens entrando no Iraque; aumento da vigilância área; um coordenador da ONU no Iraque e uma nova unidade de inteligência em Nova York. A França quer que os inspetores elaborem uma lista de questões não resolvidas, por ordem de importância, e estabeleçam prazos para que sejam dadas respostas. "É importante pôr os iraquianos contra a parede e não deixá-los escapar em relação a questões que eles devem responder e sobre as quais uma cooperação realmente ativa é esperada", afirma-se na proposta francesa. O chefe dos inspetores, Hans Blix, e o inspetor nuclear Mohamed El-Baradei, que estiveram neste fim de semana em Bagdá, vão apresentar suas últimas considerações sobre a cooperação iraquiana, especialmente sobre a questão crucial de se os iraquianos ofereceram evidências sobre seus programas de armas. Diplomatas do conselho disseram que a Grã-Bretanha deve apresentar uma segunda resolução na sexta-feira, que autorizaria o uso da força contra o Iraque. Autoridades americanas já deixaram claro que o presidente George W. Bush pretende usar o relatório dos inspetores para forçar uma decisão no conselho: ou apóiem a pressão dos EUA para desarmar Saddam ou fiquem de lado enquanto Bush lidera uma coalizão que irá fazê-lo. Blix disse que cabe ao conselho decidir se as inspeções devem continuar. Mas ele destacou que os inspetores retornaram apenas dois meses atrás, depois de quatro anos de ausência, e "ainda é um pouco cedo para retirá-los".

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