Francês recebe prêmio internacional de matemática

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Por Agencia Estado
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O francês Laurent Lafforgue foi agraciado com a medalha Fields, em Pequim, onde está sendo realizado o Congresso Internacional dos Matemáticos. Esta medalha, que é comparada, no caso da matemática, ao Prêmio Nobel, é distribuída a cada quatro anos. Outro pesquisador também a recebeu, ontem: o russo Vladimir Voevodsky, que trabalha nos Estados Unidos. A escola francesa de matemática foi assim consagrada: com quatro medalhas Fields em vinte anos, a França se classifica em segundo lugar, depois dos Estados Unidos, mas antes da Rússia, da Alemanha, do Japão e da Índia. Qual o trabalho que levou Lafforgue, de 35 anos, a merecer essa homenagem? O título de sua publicação é o seguintte: "Chtoucas de Drinfeld et correspondance de Langlands". Esta frase é uma verdadeira beleza surrealista, sobretudo se nos lembrarmos que a palavra "chtoucas" é a tradução fonética da palavra russa que significa "truque" e que designa objetos da geometria algébrica inventados no início da década de 1970 pelo russo Vladimir Drinfeld. Para penetrar um pouco mais na obra de Laurent Lafforgue, podemos ler sua dissertação científica. Infelizmente, esta dissertação tem 240 páginas, enquanto, normalmente esses textos não vão além de 40 páginas. Por isso, sou obrigado a confessar que não consegui terminar a leitura em uma hora. Entretanto, podemos especificar o objetivo fixado por esse matemático premiado: em 1967, um canadense, chamado Langlands, propôs um programa para "unificar" os ramos da matemática. Mas sua proposta não teve sucesso. Em primeiro lugar, por causa das dificuldades teóricas. Depois, porque, naquela época, a tendência dos matemáticos era contrária aos votos de Langlands: a idéia era de que o aumento concentrado das pesquisas teria como resultado um distanciamento entre os diferentes campos da matemática. Mas depois os ventos mudaram de rumo. Hoje, há muitas e grandes equipes de estudos buscando responder aos desejos de Langlands. Há um grande esforço para unificar todos os ramos da matemática. Já foram alcançados alguns êxitos, mas são sucessos parciais. O próprio Langlands conseguiu vincular a teoria dos números, a álgebra e a análise. Agora, Lafforgue vai mais além e demonstra a intuição de Langlands com um grau de generalidade muito elevado. Em resumo: a unificação dos diferentes campos da matemática já está em andamento. Deixemos de lado os arcanos dos trabalhos de Lafforgue para falar sobre a vitalidade da escola matemática francesa. Trata-se de um caso excepcional. De fato, nos outros compartimentos da ciência, embora a França não seja nula, está longe de competir com os Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Alemanha. Basta ver a quem são outorgados os Prêmios Nobel de ciências aplicadas - Medicina, Física, etc. Não devemos pensar tanto em um gênio singular dos franceses quanto aos aspectos específicos da pesquisa matemática: o primeiro ponto é que esta ciência, a mais bela e a mais misteriosa, não precisa de meios enormes. Nada de aparelhos gigantescos, de laboratórios caros, de equipes imensas. Um cérebro, um pedaço de papel, um lápis. E basta. Segunda razão: o tecido da pesquisa francesa, em razão da leveza dos equipamentos, é muito rico: a França conta com 2.300 matemáticos agrupados em 50 laboratórios, sobretudo na região parisiense, em Orsay e em Paris, que abriga o maior centro matemático do mundo. Com certeza, estes pesquisadores não são pagos tão regiamente quanto nos Estados Unidos, mas suas condições são muito boas e podemos observar que há poucas "fugas de cérebros" para os EUA. De certa maneira, acontece o contrário: indianos, e mesmo norte-americanos, vêm a Saclay e a Paris. Estou consciente de que este meu artigo, embora não tenha 240 páginas de equações, talvez seja meio austero. Por isso, para recompensar os que o leram, vou contar uma anedota. Por que o sueco Alfred Nobel, inventor da dinamite, que criou em 1901 os Prêmios Nobel (de Literatura e Ciências), se esqueceu das ciências matemáticas? Alfred Nobel tinha uma amante, Sophie Hess. Ora, Sophie teria se apaixonado por um grande matemático sueco, Gosta Magnus Mittag-Leffler. Alfred Nobel ficou furioso. E, para se vingar, teria excluído os matemáticos dos Prêmios Nobel. Esta versão é contestada por alguns, mas uma coisa é certa: Alfred Nobel e o namorado de sua amante se detestavam.

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