Qualquer bom estudante do ensino médio sabe que apenas dois países na América do Sul não fazem fronteira com o Brasil: Chile e Equador. Portanto, o chanceler que sugerisse um tratado de fronteiras entre os governos brasileiro e equatoriano seria tachado de louco.
Não foi o caso de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, que ocupou o Itamaraty entre 1902 e 1912. Em 1904, o Barão recebeu no Rio de Janeiro o chanceler do Equador, Carlos Rodolfo Tobar, com a estranha missão de firmar um tratado militar que incluía o desenho da fronteira entre os dois países.
Na época, equatorianos e peruanos disputavam uma área de 442 mil quilômetros na Floresta Amazônica. Sem vencedor à vista, o Barão botou os bigodes de molho e firmou uma aliança secreta com Tobar que previa o uso da força contra qualquer agressão peruana. Alguns dias depois, ambos assinaram publicamente um tratado de fronteiras.
Os acordos nunca chegaram a ser ratificados, mas foram uma jogada de mestre do chanceler brasileiro. Com a aproximação do Equador, o Barão forçou o Peru a negociar finalmente a demarcação de sua fronteira amazônica com o Brasil.
A desconfiança do Barão fazia sentido. Peru e Equador viveram às turras durante os 100 anos seguintes. Em 1995, tropas dos dois países entraram em conflito aberto pelo Rio Cenepa. A pinimba entre vizinhos só foi resolvida em 1998, com um acordo mediado pelo Itamaraty e assinado em Brasília.