Fronteira entre Colômbia e Venezuela já vive tensão

Moradores correm aos mercados, polícia amplia vistoria de veículos e caminhões-tanque paralisam entregas

PUBLICIDADE

Por Roberto Lameirinhas e CARACAS
Atualização:

Menos de 12 horas depois de o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ter anunciado o congelamento das relações com a Colômbia, a tensão se instalou entre a população da fronteira entre os dois países, principalmente nas pontes internacionais Simón Bolívar e Francisco de Paula Santander, que ligam o Estado de Táchira, no lado da Venezuela, ao departamento colombiano de Norte de Santander. Embora o governo de Chávez assegure que não foi tomada nenhuma decisão de fechar, vigilantes dos dois lados intensificaram a revista de veículos e caminhões, enquanto a população das cidades venezuelanas próximas da divisa corria aos supermercados temendo uma nova onda de desabastecimento. Caminhões-tanque que transportavam gasolina para Norte de Santander paralisaram suas atividades até que a missão diplomática colombiana se restabeleça em Bogotá. O transporte mensal desses 8 milhões de litros de gasolina venezuelana está previsto num acordo que vence este mês e caminhoneiros colombianos temem ficar retidos na fronteira e sem assistência consular colombiana por causa da crise diplomática. Ontem, o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, disse que a Venezuela revisará os acordos de fornecimento de gasolina à Colômbia. A região fronteiriça entre Venezuela e Colômbia também se caracteriza pelo grande número de pequenos contrabandistas de gasolina, que compram o produto venezuelano por US$ 0,04 o litro e o revendem do lado colombiano com grande lucro. Ontem, segundo relatos de emissoras de TV venezuelanas, autoridades na Venezuela estavam intensificando a revista de carros com placas da Colômbia - alguns contrabandistas instalam tanques de combustíveis sobressalentes em seus veículos -, provocando longas filas na Avenida Venezuela, na localidade de San Antonio, em Táchira. O intercâmbio comercial entre os dois países superou os US$ 2 bilhões somente entre janeiro e maio. No mesmo período do ano passado, foi de US$ 1,811 bilhão. Em 2007, essa cifra era de US$ 948 milhões. A Colômbia supre seus vizinhos venezuelanos com alimentos, têxteis, máquinas e equipamentos. Com o fornecimento desses produtos em risco, moradores da fronteira anteciparam suas compras. Segundo a Fedecámaras, que reúne as associações empresariais da Venezuela, a crise econômica mundial já causou a perda de pelo menos 1 mil empregos diretos só na fronteira de Táchira. Com a disputa diplomática, a expectativa é que essa situação se torne ainda pior. Do lado colombiano, também há apreensão. "A Venezuela é nosso principal mercado e conseguir novos destinos para nossos produtos não é algo que se consiga fazer de um dia para outro", disse ao jornal de Caracas El Universal o presidente da Associação Colombiana de Produtores de Têxteis, Iván Amaya.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.