Fuga de empregos dá fôlego à retórica de bilionário em Indiana

Eleitores antes vistos como simpatizantes de Cruz se identificam com questionamentos de Trump ao livre mercado

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - A principal aposta de Ted Cruz em sua investida contra Donald Trump em Indiana são os eleitores religiosos que se identificam como conservadores e representam cerca de 40% dos votos republicanos no Estado. No entanto, o bilionário de Nova York tem tido mais sucesso que o senador evangélico do Texas na conquista desse público. Além disso, Indiana tem uma ampla base industrial, cujos trabalhadores brancos tendem a preferir Trump.

O Estado do Meio-Oeste americano lidera o ranking do país na proporção de empregos em manufatura, com 30% de sua força de trabalho em linhas de montagem de fábricas. Como a maioria das regiões industriais do país, Indiana perdeu milhares de empregos no setor nas duas últimas décadas. O mais recente caso é o da fabricante de aparelhos de ar-condicionado Carrier, que se tornou um símbolo dos ataques de Trump ao livre comércio.

Moradores de Indianápolis se manifestam contra ida da fabricante de ar-condicionado Carrier para o México Foto: REUTERS/Aaron P. Bernstein

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“Se olharmos os resultados recentes e o sucesso de Trump nesse grupo demográfico, é difícil imaginar que ele perderá em Indiana”, disse ao Estado o professor de ciências políticas da Universidade de Indiana, Timothy Hellwig, em referência aos operários brancos que têm votado no bilionário.

Segundo ele, Trump também demonstrou ser capaz de conquistar evangélicos conservadores, que até o início do atual ciclo eleitoral eram vistos como simpatizantes de Cruz. O bilionário recebeu a maior parcela dos votos desse grupo no dobro de Estados que o seu adversário.

Aperto. Poucas pesquisas foram feitas em Indiana, mas os levantamentos divulgados até agora colocam Trump na liderança, ainda que com pequena margem. A média calculada pelo site Real Clear Politics dá ao bilionário 38% das intenções de voto. Cruz aparece com 35% e o governador de Ohio, John Kasich, com 18%.

Apesar da pouca diferença, o professor de política americana da Universidade Estadual de Indiana, Matthew Bergbower, também aposta na vitória de Trump. “Não há número suficiente de religiosos conservadores em Indiana para sustentar a liderança de Cruz”, avaliou. 

Bergbower afirmou à reportagem que as maiores preocupações dos eleitores de Indiana são a economia e a criação de empregos. Trump soube capturar esse sentimento e transformá-lo em uma poderosa bandeira de campanha, com ataques ao comércio internacional e a acusação de que outros países trapaceiam os Estados Unidos.

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O desemprego em Indiana caiu para 5,5%, patamar semelhante à média do país. Muitas das regiões do Estado, porém, registram índices superiores. 

Com uma população majoritariamente branca e conservadora, o Estado se transformou em um palco crucial da disputa pela escolha do candidato republicano à Casa Branca. Se Cruz ganhar a maioria de seus 57 delegados, ele dará ao comando da legenda a esperança de impedir a nomeação de Trump na convenção marcada para julho. 

Caso o bilionário vença, no entanto, será praticamente impossível barrar sua caminhada rumo à candidatura presidencial. Para evitar que seu nome seja contestado, Trump precisa chegar à convenção com 1.237 delegados - nas prévias, ele já conquistou 1.002. Se isso ocorrer, ele será consagrado no primeiro turno de votação, no qual os delegados devem seguir a decisão dos eleitores de cada Estado.   Se ficar abaixo da metade, haverá um segundo turno de votação na convenção, no qual os delegados ficam livres para votar em quem quiserem. É nesse cenário que Cruz aposta, embora ele pareça estar cada vez mais distante.

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