Funcionário da ONU é morto no fogo cruzado em Jerusalém

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Por Agencia Estado
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Um alto funcionário britânico da Organização das Nações Unidas (ONU) foi morto a tiros hoje num complexo da entidade na Cisjordânia durante uma troca de tiros entre tropas israelenses e milicianos palestinos. Ian Hook, de 50 anos, chefiava um projeto da ONU de reconstrução de casas destruídas em combates no campo de refugiados de Jenin, no extremo norte da Cisjordânia. Um garoto palestino de 11 anos também foi morto e uma irlandesa ficou ferida em incidentes distintos no mesmo campo. Hook e diversos outros funcionários da ONU estavam num pequeno complexo das Nações Unidas, constituído de vários trailers, quando teve início o tiroteio, relatou Sami Mshasha, porta-voz da organização. "Vários disparos atingiram o trailer e o atingiram", relatou Mshasha. "Conseguimos enviar uma ambulância que o levou para o hospital, mas ele chegou morto." No momento, tropas de Israel haviam cercado o esconderijo de um líder procurado da Jihad Islâmica, Abdullah Wahsh, e exigiam que ele se rendesse. Milicianos palestinos dispararam contra as tropas e houve um tiroteio. Centenas de jovens palestinos também jogavam pedras nos soldados, que responderam com tiros e pediram o reforço de helicópteros artilhados. O diretor do Hospital de Jenin, Mohammed Abu Ghali, disse que as balas extraídas do abdomên de Hook eram do tipo geralmente utilizado pelas tropas israelenses. Uma porta-voz do Exército de Israel, Sharon Feingold, disse que ainda não estava claro se o funcionário da ONU havia sido morto por disparos israelenses ou palestinos e que o incidente estava sendo investigado. Segundo ela, o Exército apressou-se para resgatar o britânico. No entanto, as Nações Unidas emitiram o comunicado denunciando que os soldados impediram o acesso imediato de uma ambulância e que houve atraso na retirada da vítima. "Ainda não se sabe se o atraso no socorro causou sua morte", ressalvou a entidade. As forças entraram no campo para capturar um líder da Jihad Islâmica supostamente envolvido em um atentado suicida à bomba que matou 14 israelenses no mês passado, explicou Feingold. Autoridades da ONU estão tentando contactar oficiais israelenses a fim de garantir a segurança de seu pessoal em Jenin. Hook era o coordenador de um projeto de reabilitação do campo orçado em US$ 27 milhões pela agência da ONU que ajuda os refugiados palestinos, conhecida pelas iniciais UNRWA. Hook foi a primeira autoridade da ONU morta durante os últimos dois anos de conflitos no Oriente Médio. Pelo menos 19 estrangeiros já foram mortos. Peter Hansen, comissário geral da UNRWA, disse que toda a agência está chocada e ultrajada pela morte e enviou condolências à família de Hook. "Eu posso esperar apenas que eles sintam um pouco de conforto e orgulho ao saber que ele perdeu sua vida tentando salvar outras", declarou Hansen. Num outro incidente hoje em Jenin, uma irlandesa foi ferida na coxa esquerda. Caoimhe Butterly, de 24 anos, nascida em Dublin, é uma ativista do pró-palestino Movimento de Solidariedade Internacional que vive no campo há seis meses. Centenas de estrangeiros da Europa e dos Estados Unidos têm-se unido periodicamente ao grupo na Cisjordânia para apoiar os palestinos e protestar contra a operações militares israelenses. Butterly disse que os combates eram tão intensos hoje que alguns pais chegaram a passar seus filhos pelo muro do complexo da ONU para funcionários do outro lado, acreditando que eles estariam mais seguros lá. Butterly tentava levar algumas crianças palestinas para um local seguro quando foi atingida numa rua estreita. Um grupo de crianças a carregou para um ambulância numa maca. Ele relatou que um disparo de um tanque israelense atravessou sua perna, na altura da coxa. Ela tem vivido no campo desde abril, quando teve fim a última grande operação militar israelense no local. Butterly garantiu que permanecerá na Cisjordânia até que as tropas israelenses abandonem de vez a Cisjordânia. "Não houve um dia desde que estou aqui que não vi uma pessoa morta ou ferida", relatou.

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