"Fundamentalista moderado" vence eleição turca

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Por Agencia Estado
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Os eleitores turcos, irritados com a pior crise econômica do país em décadas, manifestaram neste domingo seu apoio a um partido com raízes islâmicas, o que mudará totalmente a composição do Parlamento da Turquia, aliada-chave dos Estados Unidos. Apurados 75% dos votos, o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) - considerado fundamentalista islâmico moderado - havia obtido 36% dos votos, segundo dados divulgados pela agência de notícias Anatolia. Seu rival, o Partido Popular Republicano, havia obtido 19% dos votos e estava em segundo lugar. Nenhum outro partido havia obtido mais de 10% dos votos, o porcentual mínimo exigido para que os partidos possam entrar no Parlamento. O Partido da Esquerda Democrática, do primeiro-ministro, Bulent Ecevit, obteve apenas 1% dos votos. Por isso, nem o chefe de governo deve manter sua cadeira no Parlamento. Antes mesmo do anúncio dos resultados oficiais, Ecevit admitiu a derrota de seu partido. "Não estou surpreso, mas não esperava obter uma porcentagem tão baixa." Segundo esses resultados, o AKP deverá conquistar a maioria das 550 cadeiras do Parlamento e formar um governo sem a necessidade de coalizão. Esse partido, que participa pela primeira vez das eleições turcas, foi fundado a partir de um proscrito partido islâmico. Ele é dirigido por Recep Tayyip Erdogan, ex-prefeito de Istambul que não pôde candidatar-se por causa de uma condenação por "incitação ao ódio religioso". Um promotor tenta impedir Erdogan também de dirigir o partido por causa dessa condenação. O Partido Justiça e Desenvolvimento enfatizou que não pretende impulsionar uma agenda islâmica, mas os temores criados por suas inclinações fundamentalistas fizeram com que muitos apoiassem o Partido Republicano do Povo, de centro-esquerda. Erdogan, acusado por seus rivais de ter tendências fundamentalistas, disse, neste domingo, durante uma entrevista coletiva em Istambul, que seu partido "está preparado para assumir a responsabilidade de construir uma política que acelerará a entrada do país na União Européia e de fortalecer a integração" da economia turca à economia mundial. Ele também prometeu que seu partido - que qualificou durante a campanha como laico, democrático e conservador de direita - trabalhará para tornar o país mais aberto e atraente aos investimentos estrangeiros. Erdogan assegurou que, se seu partido for vitorioso nas eleições, o governo formado pelo AKP se reunirá com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para discutir, se necessário, possíveis mudanças no programa de ajuda de US$ 16 bilhões. Muitos acreditam que um partido com raízes islâmicas poderia levar instabilidade e tensões à região. Os observadores destacam que muitos dos seguidores do AKP foram membros de um movimento político mais radical e podem não se sentir satisfeitos com a posição moderada adotada por seus líderes. Outros dizem que, se o partido mantiver sua posição moderada, poderia tornar-se uma ponte entre o Oriente Médio e a Europa, no momento em que o radicalismo islâmico está aumentando. As eleições ocorrem, enquanto os EUA tentam transformar a Turquia em um exemplo de país democrático e secular que é esmagadoramente muçulmano, mas aposta seu futuro no Ocidente. A economia turca piorou notavelmente desde o ano passado, e Ecevit perdeu o controle do governo. A diferença entre ricos e pobres aumentou drasticamente, a crise financeira diminuiu o valor da divisa nacional e aumentou o desemprego. Atualmente, 60% da população vive abaixo do nível de pobreza. "Votei no Partido da Justiça, pois não acreditamos nos outros partidos", disse Hatice Bilal, de 43 anos. "Queremos o fim da pobreza", acrescentou.

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