Furacão Sarkozy chega à África

Líder francês inicia pela Líbia uma viagem por 5 países, na esteira de seu sucesso na libertação de enfermeiras búlgaras

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Por Trípoli
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O presidente francês, Nicolas Sarkozy, reuniu-se ontem em Trípoli com o líder líbio, Muamar Kadafi, um dia depois que o país africano libertou cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino, acusados de infectar com o vírus HIV mais de 400 crianças. Apontado como um dos principais responsáveis pelo acordo de libertação, Sarkozy chegou à África - onde também visitará Senegal, Gana, Gabão e República Democrática do Congo - pronto para colher os frutos do sucesso de sua política externa. A libertação das enfermeiras e do médico, presos havia oito anos, foi uma das promessas de campanha do presidente, que está numa ofensiva para recuperar a importância da França no cenário internacional. Após ser eleito, Sarkozy liderou as negociações pessoalmente, dispensando o Ministério de Relações Exteriores. Até sua mulher, Cécilia, envolveu-se no caso: reuniu-se duas vezes com Kadafi, conseguindo, segundo analistas, estabelecer uma boa relação pessoal com o líder líbio e sua família. Nesta semana, ela voltou a Trípoli para o desfecho do caso. Apesar do claro sucesso, a abordagem personalista foi criticada ontem na França. A oposição acusou Sarkozy de aproveitar-se do trabalho feito durante três anos pela comissária de Relações Externas da UE, Benita Ferrero-Waldner. "Eles (Sarkozy e Cécilia) estão colocando seus ovos na cesta de outra pessoa. A UE fez toda a negociação e agora eles querem colher os louros", acusou o ex-ministro de Assuntos Europeus Pierre Moscovici, membro da oposição socialista. De qualquer forma, Sarkozy deu um golpe diplomático nos demais países europeus e saiu na frente para estabelecer boas relações com a Líbia, que tem vastas reservas de petróleo não exploradas e um importante mercado de armas. Poucas horas após a chegada do presidente francês a Trípoli, os dois países anunciaram a assinatura de um acordo de cooperação em áreas como luta contra o terrorismo, uso pacífico de energia nuclear, defesa, pesquisa, educação, economia e imigração. A visita de Sarkozy - três anos depois das de seu antecessor, Jacques Chirac, e do então premiê britânico Tony Blair - é mais um passo para o fim do isolamento em que a Líbia foi posta em 1988, após o atentado contra um avião da Pan Am em Lockerbie, na Escócia, que deixou 270 mortos. Em 2003, a Líbia aceitou a responsabilidade pelo ataque e concordou em indenizar as famílias das vítimas. Mas a prisão das enfermeiras búlgaras e do médico palestino ainda era um obstáculo para a aproximação com a União Européia. Com a libertação das enfermeiras e do médico, Kadafi conseguiu, além dos US$ 400 milhões reunidos por vários países para indenizar as famílias das crianças com HIV, o acesso ao mercado europeu. O bloco comprometeu-se a dar uma série de incentivos, especialmente nas áreas de agricultura e infra-estrutura. Além da UE, os EUA também sinalizaram uma reaproximação. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, afirmou ontem a uma rádio que pretende visitar o país "em breve". DIPLOMACIA AGRESSIVA Líbia: Por pressão de Cécilia, mulher de Nicolas Sarkozy, e da União Européia, Trípoli libertou terça-feira cinco enfermeiras da Bulgária e um médico palestino detidos havia oito anos Colômbia: Em junho, governo colombiano acatou pedido francês e libertou o ?chanceler? das Farc, Rodrigo Granda, para mediar negociações para libertar reféns como a franco-colombiana Ingrid Betancourt UE: Sarkozy e a alemã Angela Merkel evitaram em junho o colapso constitucional do bloco ao conseguir adesão de britânicos e poloneses a tratado de reforma

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