PUBLICIDADE

Futuro da Síria sem Assad é desafio para comunidade internacional

Países ocidentais tentam lidar com divisões entre opositores insurgentes e futuro das armas químicas, caso regime atual caia.

Por Frank Gardner
Atualização:

O tempo está se esgotando para a comunidade internacional conseguir estabelecer um plano que evite que as armas químicas do governo de Bashar Al-Assad, na Síria, caiam em mãos erradas, se houver uma mudança de regime no país. Apesar de Assad ainda poder ficar no poder por algum tempo - ele já conseguiu se manter no cargo por mais tempo que muitos previam - mas a situação está mudando tão rapidamente na Síria que o Ocidente não está conseguindo elaborar um plano para lidar com os diversos desafios que surgirão, no caso de uma queda do governo. Mike Rogers, presidente do comitê de inteligência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, disse à BBC que caso um plano para lidar com as armas químicas da Síria não seja elaborado logo, toda a região pode entrar em conflito - com o envolvimento de Estados como o Líbano e de grupos considerados terroristas pelos americanos. "Eu acho que temos muito mais trabalho pela frente para nos certificarmos que a Liga Árabe, a Turquia e nossos aliados europeus estão em perfeita harmonia com um plano que permita a segurança imediata destes sistemas armamentistas", disse Rogers. "Caso contrário, nós teremos uma série de eventos desestabilizadores na região, e isso será muito perturbador para a estabilidade de governos no Oriente Médio." Ocidente Armas químicas em um país do Oriente Médio, fontes anônimas de inteligência... tudo isso se parece muito com o Iraque de 2003. Mas a Síria dos dias atuais é bastante diferente do Iraque daquela época, sobretudo em dois aspectos. Primeiro, o governo de Assad não nega possuir armas químicas. Ele apenas diz que não tem intenção de usá-las. E, ao contrário do Iraque, em que o governo de George W. Bush estava com pressa para invadir, o Ocidente tem feito de tudo para evitar um conflito militar internacional na Síria. Mas curiosamente a cautela do Ocidente em se envolver militarmente na Síria está produzindo outros tipos de problemas desta vez. Malik Abdeh, um jornalista sírio que vive na Grã-Bretanha,m acredita que os sírios têm bastante resistência à ideia de presença militar ocidental no país. "O Ocidente se recusou a armar a oposição, e portanto as pessoas na oposição sentem que o Ocidente não terá direito moral de intervir depois que Assad deixar o poder", afirma o jornalista. A decisão americana de colocar o grupo insurgente Jabhat Al-Nusra na lista de organizações terroristas - devido à sua ligação com a al-Qaeda - foi vista como uma péssima medida por ativistas da oposição, diz Abdeh. "As pessoas veem isso como uma hipocrisia, que o Ocidente designe aqueles que lutam contra Bashar al-Assad como terroristas, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos desejam a queda de Bashar al-Assad." Até agora, a maior parte das preparações do Ocidente para a queda de al-Assad na Síria foram diplomáticas - com aproximação junto a opositores que vivem no exterior e com pedidos de ações das Nações Unidas. Alastair Burt, ministro britânico de Estado para o Oriente Médio e Norte da África, afirma que a Grã-Bretanha "trabalha com uma variedade de agências diferentes para se preparar com o máximo de tempo possível". Exército 'crucial' Uma pessoa que conhece bem os perigos do colapso de um regime no Oriente Médio é Tim Cross, o general britânico enviado ao Iraque para ajudar na reconstrução do país em 2003. Ele não simpatiza com Assad, mas acredita que o Ocidente cometeu um erro estratégico ao tentar isolá-lo tão rapidamente. "Eu acho que o Ocidente não soube lidar com isso muito bem", diz ele. "Nós nos voltamos com muita força contra Assad e cedo demais neste contexto. Nós o demonizamos muito cedo, nós o alienamos, o empurramos em um canto, e agora estamos vendo o resultado disso." Na prática, a situação está mudando tão rapidamente na Síriam que o Ocidente está com dificuldades de acompanhar os eventos. O Jabhat Al-Nusra, por exemplo, não tem intenção de abandonar suas armas se Assad for derrotado. Para Malik Abdeh, só uma força central pode impedir que a Síria se desintegre em facções, caso Assad seja derrubado. "A esfera da influência do Ocidente, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha na Síria é limitada", diz ele. "Haverá pelo menos cinco anos de instabilidade no país, mesmo quando Bashar al-Assad tiver ido embora. O que realmente importa é o Exército. O Exército é fundamental para a sobrevivência de Bashar al-Assad, e também para a sobrevivência da Síria que conhecemos." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.