Futuro nuclear divide EUA

Aprovação do acordo de limite de arsenais com Moscou polarizou ainda mais o debate

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Por David E. Sanger
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O novo tratado com a Rússia envolvendo o controle de armas, aprovado na quinta-feira, era visto como uma espécie de "lombada" na agenda nuclear do presidente Barack Obama: uma redução modesta das forças nucleares que lhe permitiria tratar de assuntos muito mais difíceis diante de seu objetivo de eliminar completamente as armas nucleares. Ocorre que essa "lombada" transformou-se numa montanha. Embora Obama esteja saboreando mais uma vitória importante, seus próprios assessores admitem que a lição tirada da batalha para aprovar o tratado é que a divisão política no campo da segurança do país está se ampliando. Os próximos passos, seguindo a agenda de Obama no campo nuclear, parecem agora mais difíceis do que nunca. Apesar de o presidente ter convencido os oponentes republicanos ao Novo Start, o trabalho será muito mais duro para conseguir que o Senado aprove um outro tratado, de proibição de todos os testes nucleares. E as novas potências nucleares do mundo - lideradas pelo Paquistão, aliado dos EUA - vêm manobrando para aniquilar o plano de Obama de acabar com a produção de material físsil, elemento básico a países que desejam produzir armas nucleares, como o Irã. Um próximo tratado com a Rússia, sobre o que fazer com suas pequenas armas nucleares táticas, também promete se transformar numa disputa ainda mais acirrada. Mérito. Mas nada tira o caráter histórico da vitória de Obama. Presidentes democratas têm um histórico fantástico de conseguir a aprovação de acordos sobre controle de armas nucleares, especialmente os firmados com a Rússia ou a extinta União Soviética. Esse tratados foram amplamente respeitados por presidentes como Richard Nixon, Ronald Reagan e George Bush. A façanha realizada por Obama contrasta com o fracasso do presidente Jimmy Carter em conseguir aprovar o Salt II, negociado em 1979, mas jamais ratificado depois que os soviéticos invadiram o Afeganistão. Duas décadas depois, o Senado rejeitou outro tratado, proposto por Clinton, de proibição de todos os testes nucleares subterrâneos, por 51 votos contra 48. Obama assumiu a presidência prometendo que os EUA finalmente assinariam o chamado Tratado Amplo de Proibição de Testes Nucleares, logo depois de aprovado o novo Start. Foi revelador quando John Kerry, democrata de Massachusetts e líder do Comitê de Relações Exteriores do Senado, respondeu secamente a uma pergunta sobre a proibição de testes. "Não há nenhuma conversa a respeito no momento, em absoluto". Como Obama já pensa nos próximos passos da sua agenda no campo nuclear, especialmente sobre como convencer um novo Senado a aprovar seu programa, ele precisa discutir com um Partido Republicano. Alguns dos atuais poderosos no partido, incluindo aqueles que só querem contestar Obama, como Mitt Romney ou Sarah Palin, denunciaram o acordo como um enfraquecimento dos EUA. Na verdade, o derradeiro teste para o sonhado mundo sem armas nucleares será o Irã. Segundo Gary Samore, principal assessor de Obama no assunto, Teerã mostrará "para onde nos dirigir". / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOÉ REPÓRTER DO "NEW YORK TIMES"

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