G-7 nega aval a plano de Cavallo

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Por Agencia Estado
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Com um comunicado curto e diplomático, de cinco linhas, os ministros das finanças do Grupo dos Sete rejeitaram as medidas econômicas anunciadas na noite de quinta-feira pelo governo da Argentina e negaram seu endosso à proposta de renegociação da dívida apresentada por Buenos Aires, limitando-se a manifestar-se "satisfeitos" pela iniciativa das autoridades de ter incluído "um plano para a redução do custos da dívida" do país. "É importante para a Argentina retornar a um caminho economicamente sustentável", afirmaram os ministros, para deixar clara sua desaprovação ao plano apresentado pelo presidente Fernando de la Rúa e pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo. O Fundo Monetário Internacional reiterou a mensagem. "Acolhemos bem os esforços da Argentina para retornar ao crescimento sustentado e estamos prontos a trabalhar com a Argentina para desenvolver tal estratégia", afirmou David Hawley, um porta-voz da instituição. "O comunicado do G-7 é um aviso de desengajamento", disse ao Estado o economista Paulo Leme, estrategista do banco de investimentos Goldman Sachs para a América Latina. Na quinta-feira, já informado sobre o conteúdo do anúncio que viria horas mais tarde, o Fundo Monetário Internacional se distanciara da Argentina, deixando claro, por meio de seu porta-voz, Thomas Dwason, que a instituição não apoiaria uma proposta de renegociação baseado num programa econômico sem credibilidade ou viabilidade. A principal objeção do Fundo é a decisão das autoridades argentinas de destinar uma parte dos US$ 4 bilhões em economias que o país obteria, na remota hipótese de os credores aceitarem a proposta de renegociação com redução de juros, para estimular a economia. O fato de o plano ter sido apresentado sem que De la Rúa tenha obtido o acordo que buscava com os governadores para limitar as transferências de recursos para as províncias apenas agravou a falta de credibilidade fiscal do programa em Washington. Num sinal adicional da ausência de apoio oficial, um executivo do Banco Interamericano de Desenvolvimento disse que a instituição não faria nenhuma comentário sobre a proposta argentina. Na quinta-feira, Dwason, do FMI, minimizou o potencial de contágio de um agravamento da crise da Argentina. Executivos de instituições financeiras internacionais ouvidos pelo Estado disseram não ter dúvidas de que o Brasil terá acesso a recursos oficiais adicionais para fazer face aos eventuais reflexos do colapso argentino, que parece agora inevitável. Para Leme, o pacote de medidas anunciadas em Buenos Aires e a gélida recepção que ele teve nos meios oficiais e no mercado colocaram a Argentina mais perto de uma solução catastrófica da crise. "Sem aval do G-7 e sem o compromisso do aporte de garantias para a renegociação do FMI e dos bancos multilaterais, o país caminha agora para a uma corrida bancária e o aprofundamento da crise financeira, uma reestruturação desorganizada da dívida e a mudança do regime cambial", em meio a uma crise política "que levará, no mínimo, a uma mudança da equipe e à formação de um gabinete de unidade nacional, com a participação dos peronistas, mas pode chegar até à antecipação de eleições presidenciais". Leme observou que um dos problemas da Argentina para encarar a crise "é a completa desconexão entre a realidade e as notícias e as opiniões publicadas na imprensa" do país. Esta é a primeira vez, desde a crise russa de 1998, que o G-7 e os organismos financeiros internacionais negam-se a socorrer um país e deixam o caminho aberto para que seus credores assumam perdas do que é, na prática, um calote. "Como os credores já haviam precificado essas perdas, o plano apresentado foi muito tímido para o que se pretendia", disse Paulo Vieira da Cunha, economista do banco de investimentos Lehman Brothers. A exemplo de Paulo Leme, Vieira da Cunha acha que uma proposta mais apropriada conteria três ingredientes: uma redução negociada não apenas dos juros, mas também do valor de face da dívida, com tratamento homogêneo a todos os credores, uma política fiscal coerente e o fim da conversibilidade cambial.

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