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Gabinete de Duhalde será mais político do que técnico

Cargos cruciais ficarão em mãos peronistas, ministérios menores passam para oposição

Por Agencia Estado
Atualização:

O gabinete ministerial de Eduardo Duhalde, que seria anunciado oficialmente hoje, teria uma forte presença de políticos de peso, mas também contará com um punhado de técnicos. A idéia é que o peso político dos ministros propicie um forte respaldo que foi escasso nos governos anteriores. Desta forma se diferenciará do fracassado governo do ex?presidente Fernando De la Rúa (1999-2001), cujo gabinete foi constituído majoritariamente por figuras políticamente inexpressivas, além de técnicos, principalmente economistas. Além disso, Duhalde pretende colocar integrantes da oposição no gabinete, de forma a propiciar a imagem de um governo de ?salvação nacional?. O nome de Jorge Remes Lenicov já está confirmado para ocupar o ministério da Economia. Ao contrário do ex?presidente De la Rúa, que em seus últimos nove mese de governo teve no comando da Economia um técnico com fortes aspirações políticas, como o problemático Domingo Cavallo, Duhalde optou por um técnico sem potencial para ser um futuro problema político. A confirmação de Remes Lenicov foi feita pelo senador Antonio Cafiero, após uma reunião com Duhalde. Remes Lenicov, além de ser um homem de extrema confiança de Duhalde, tem sido o referencial econômico do peronismo nos últimos dois anos. Atualmente deputado peronista, Remes Lenicov foi secretário de Economia na província de Buenos Aires na época em que Antonio Cafiero era governador (1987-91), e posteriormente com Eduardo Duhalde (1991-99). Remes Lenicov estudou economia na Universidade de La Plata (onde também se formou o ex?ministro da Economia Ricardo López Murphy), e é um forte opositor à idéia de dolarização da economia. O novo ministro considera que a dívida externa deve ser renegociada através do consenso. Ele também prega uma redução progressiva do Imposto de Valor Agregado (IVA), principalmente para os produtos alimentícios. Remes Lenicov possui posições favoráveis ao Mercosul, e já ocupou a presidência da Comissão Parlamentar que se encarrega do bloco comercial. No entanto, meses atrás, declarou que não hesitaria em implementar salvaguardas comerciais quando fosse necessário. Junto com Lenicov trabalharão na nova equipe econômica Alberto Todesca, que possivelmente seria o novo vice-ministro da Economia. Durante o governo do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-89), Todesca foi secretário do Comércio. O secretário de Finanças seria Lisandro Barry, um especialista em dívida pública. A secretaria de Fazenda ficaria com o senador Oscar Lamberto. O ex?vice-ministro da Economia, Daniel Marx, continuaria no cargo de assessor presidencial para a reestruturação da dívida externa. Marx encarrega-se desta área desde 1983. Chanceler Outro confirmado por Cafiero é Carlos Ruckauf, que deixa o governo da província de Buenos Aires ? a maior e mais rica do país, mas também a mais endividada ? e passa a ocupar o cargo de chanceler. Neste posto, Ruckauf poderá adquirir um protagonismo internacional que muitos analistas consideram como essencial para que em 2003 seja um forte candidato à presidência da República. ?Será uma espécie de (FH) Cardoso, que primeiro foi chanceler, para depois se tornar ministro da Fazenda de (Itamar) Franco, e assim, catapultar-se para presidente. Evidentemente, Ruckauf ficaria somente na chancelaria para dali pular para a Casa Rosada?, disse ao Estado um economista peronista próximo a Ruckauf. Extra-oficialmente comenta-se que a primeira viagem de Ruckauf para o exterior seria para o Brasil. Em relação ao principal parceiro argentino, o governador bonaerense e potencial novo chanceler teve um discurso oscilante nos últimos anos. Ruckauf passa com rapidez dos elogios às críticas. Desta forma, em alguns momentos disse que preferia o Mercosul à ALCA, mas em outras ocasiões, denominou os prefeitos e governadores brasileiros como ?maus vizinhos, que pretendem entrar em nossa casa e levar nossos móveis?. A metáfora utilizada por Ruckauf era para criticar os estímulos fiscais dados por municípios e Estados brasileiros que estavam começando a atrair empresas argentinas para instalar-se no Brasil. Com a confirmação de Ruckauf fica afastado o nome do ex?chanceler de De la Rúa, Adalberto Rodríguez Giavarini. Também se descarta outro nome que havia sido intensamente cotado, o do ex?embaixador argentino no Brasil, Diego Guelar, que causou uma crise diplomática em 1997 por ter chamado o então diretor do Banco Central, Gustavo Franco, de ?baixote arrogante e traiçoeiro?. Agindo como porta-voz informal de Duhalde, o senador Cafiero também confirmou a presença do sindicalista Alfredo Atanasoff no comando do ministério do Trabalho. Com Atanasoff nesse posto, o governo pretende reestabelecer as boas relações que os sindicatos costumam ter com os governos peronistas. Outro nome confirmado é o de Aníbal Fernández como secretário-geral da presidência. Fernández é o atual secretário do Trabalho na província de Buenos Aires. Nos planos de Duhalde está a criação de um ministério da Produção, que englobaria as secretarias da Indústria e de Comércio, e que daria um tom especial de protecionismo para as indústrias locais. Este cargo estava sendo feito à medida de Ignacio De Mendiguren, presidente da União Industrial Argentina (UIA) e um velho crítico das importações de produtos do Brasil. No entanto, o nome de De Mendiguren ? um homem de fácil confronto - não encontrava uma receptividade positiva entre os líderes pecuaristas, nem entre os grandes grupos empresariais argentinos.

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