Gabinete do Hamas realiza sua primeira reunião em Gaza

Hamas e Fatah alegam que seus governo são legítimos e representam os palestinos

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Por redacao
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O primeiro-ministro destituído da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Ismail Haniyeh, liderou nesta terça-feira, 19, a primeira reunião dos membros do gabinete de união nacional leais ao Hamas na Faixa de Gaza, depois que o grupo tomou o controle do território palestino. Segundo o escritório de Haniyeh, a reunião começou no início da tarde. Khalil el-Khaya, importante membro do movimento islâmico na Faixa de Gaza, disse que o Hamas tem intenções de continuar desempenhando suas responsabilidades, pois considera que este Executivo é o governo legítimo no território palestino. Ele afirmou ainda que o governo do Hamas é um governo interino, mas o único legítimo da ANP. "Não deixaremos que ninguém assuma nossas responsabilidades". O importante dirigente e ex-ministro do Hamas Mahmoud Zahar disse à imprensa que seu movimento reorganizará os órgãos de segurança da ANP, incluindo os serviços de inteligência, seguindo o interesse nacional. Diálogo O Comitê Central do Fatah decidiu nesta terça-feira romper todas as formas de contato com o Hamas, anunciou um participante de um encontro entre os integrantes do grupo responsável pelas decisões políticas da facção. Por sua vez, em Gaza, líderes do Hamas sugeriram a realização de um "diálogo nacional", mas a oferta foi imediatamente rejeitada pelo Fatah. "O Comitê Central do Fatah decidiu não manter mais nenhuma espécie de contato, diálogo ou encontros com o Hamas enquanto persistir o golpe militar em Gaza e enquanto a situação não voltar ao normal", disse Azzam al-Ahed, um integrante do Fatah que participou do encontro realizado em Ramallah, na Cisjordânia. "O Fatah não manterá nenhuma forma de contato com o Hamas", prosseguiu. A decisão vem à tona dias depois de o Hamas ter consolidado seu poder em Gaza após uma ofensiva contra serviços de segurança leais ao Fatah no território palestino litorâneo. Com o controle do Hamas sobre Gaza, os territórios palestinos acabaram divididos entre dois governos rivais. No último fim de semana, o Fatah instalou na Cisjordânia um governo apoiado pelo Ocidente. Em Gaza, prevalece o grupo islâmico Hamas. A comunidade internacional apressou-se em apoiar o governo da Cisjordânia, liderado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ao mesmo tempo em que buscou ignorar o Hamas. "Estamos chocados e surpresos com as vozes que impedem as discussões entre nós enquanto eles ingressam em discussões com Israel", comentou Khalil al-Haya, um destacado parlamentar do Hamas, durante entrevista coletiva concedida nesta terça em Gaza. "Estamos preparados para um diálogo nacional fraterno, sério e responsável." Na Cisjordânia, porém, Nabil Abu Rudeina, porta-voz de Abbas, descartou a possibilidade de um diálogo com o Hamas. "Não haverá diálogo com o Hamas porque este grupo violou a lei. Ele está por trás do golpe militar em Gaza. Antes de qualquer diálogo, o Hamas deve retirar seus homens armados de todos os locais ocupados e devolver o poder à autoridade legítima", insistiu. Tanto o Hamas quanto o Fatah alegam representar todos os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em janeiro do ano passado, o Hamas venceu por ampla margem as eleições gerais palestinas. Em março, quando o Hamas foi empossado, os integrantes do Quarteto de Madri (Estados Unidos, Rússia, União Européia e Nações Unidas) e outros países ocidentais impuseram um embargo político e econômico à ANP. Os integrantes do Quarteto, encarregados de conduzir a mediação do conflito entre israelenses e palestinos, exigiram do Hamas que reconhecesse Israel, abandonasse a violência e aceitasse acordos de paz assinados no passado. Eles iniciaram o boicote em resposta à recusa do Hamas em atender a essas condições. Em março deste ano, Hamas e Fatah chegaram a um acordo para montar um governo de unidade nacional com o objetivo de reverter o embargo, mas a persistente violência interna por causa da disputa de poder entre os braços armados dos dois grupos culminaram na ofensiva durante a qual o Hamas tomou Gaza pela força.

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