Gays criticam Obama por escolha de pastor

Rick Warren, que equiparou homossexuais a incestuosos, ministrará cerimônia religiosa durante a posse do presidente eleito, no dia 20

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Por Fernando Dantas
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Os ataques mais fortes a Barack Obama, a 26 dias da sua posse, não vêm da direita republicana, que tentou sem muito entusiasmo, e nenhum sucesso até agora, cavucar alguma ligação do presidente eleito com o escândalo da tentativa de venda da vaga de senador por Illinois (deixada pelo próprio Obama) pelo governador democrata Rod Blagojevich. Surpreendentemente, o fogo contra Obama é amigo e está vindo do movimento gay, um segmento do eleitorado afinadíssimo com o discurso de tolerância do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. A causa básica é que Obama escolheu o pastor californiano Rick Warren para pronunciar uma oração na sua cerimônia de posse. E o problema é que Warren fez uma campanha acirrada pelo vitorioso voto no "sim" num referendo na Califórnia (simultâneo à eleição presidencial), que emendou a Constituição do Estado para explicitar que o casamento tem de ser consumado entre um homem e uma mulher - o que, na prática, eliminou o casamento entre parceiros do mesmo sexo, embora estes continuem a ter o direito de contrair a chamada "parceria doméstica", que cria quase todos os direitos e deveres legais do casamento. O referendo da Califórnia, conhecido como Proposição 8 (já que havia várias outras consultas sobre temas diversos), mobilizou tanto a opinião pública do maior Estado americano que os gastos de publicidade (cerca de US$ 35 milhões para cada lado) foram os mais altos entre todas as campanhas para as eleições de 4 de novembro (incluindo a de governadores), com exceção da disputa presidencial. A briga judicial e política entre defensores e oponentes do casamento gay na Califórnia é antiga e complexa, mas em maio uma decisão da Suprema Corte Estadual (efetivada em junho) foi favorável aos primeiros, levando a uma onda de 18 mil casamentos entre parceiros do mesmo sexo no Estado. A decepção e o amargor do movimento gay americano com a derrota na Proposição 8, portanto, foi profunda. Daí a reação contrariada - ou até mesmo irada, em alguns casos - ao anúncio por Obama de que Warren iria participar da posse. Num artigo no Washington Post, o colunista Richard Cohen informou que a sua irmã, lésbica que militou intensamente na campanha de Obama, havia cancelado a festa programada para o dia da posse. Com o poder de síntese da língua inglesa, o título do artigo de Cohen é Warren on? Party off. Para Denis Dilson, do Fundo Gay e Lésbico da Vitória, uma organização de apoio a candidatos homossexuais, a escolha de Warren "foi como um duplo soco no estômago". Um fator agravante são comparações que Warren fez entre a sexualidade gay e o incesto, das quais recuou explicitamente em declarações nos útltimos dias. Mas, apesar de todas as reclamações, o movimento gay não desembarcou do governo Obama. Mesmo abalados, os militantes tendem a dividir-se entre os que não concordaram, mas vão relevar o assunto, e aqueles que até aceitam a explicação oficial de Obama de que a escolha de Warren faz parte da tentativa de criar pontes para eleitorados no qual foi minoria, como o dos conservadores cristãos.

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