Gaza enfrenta crise imobiliária após conflito com Israel

Bombardeios israelenses destruíram cerca de sete mil casas; apartamentos passaram de US$ 200 ao mês para US$ 400 

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Por Redação
Atualização:

GAZA - Cansado de dividir uma pequena barraca de campanha com a mulher e cinco filhos, Moussa Abu Asser olha com raiva e desespero os destroços do que era sua casa no bairro de Shahaiye, um dos mais castigados durante o último conflito em Gaza.

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Os bombardeios israelenses sobre o bairro do leste da Faixa de Gaza, transformado em um dos principais campos de batalha, obrigaram Asser a fugir e depois buscar refúgio em uma das escolas das Nações Unidas.

Com o conflito interrompido, a ONU proporcionou ao homem há três semanas a barraca de campanha para atenuar um dos principais efeitos da guerra: a falta de moradia e uma crise imobiliária com as casas que restam em condições habitáveis custando um preço proibitivo para a maioria dos habitantes de Gaza.

"Vivo nessa tenda com minha mulher e meus filhos, em frente ao que era minha casa, desde que acabaram os bombardeios. Não posso seguir assim, esperando que alguém decida vir me ajudar a reconstruí-la", explicou Asser. "Não tenho dinheiro para levantá-la de novo e tampouco para alugar um apartamento. Mas algo terei que fazer, ninguém vai vir em nossa ajuda", se queixa enquanto tenta retirar escombros com suas mãos.

"Alugar um apartamento se transformou em algo impossível, é muito caro. Além disso, quase não restam casas para alugar. Portanto a única coisa que posso fazer é tirar isso e tentar levantar algo provisório", acrescentou.

Asser não é o único. Cerca de 400 mil pessoas se viram obrigadas a abandonar as casas e buscar refúgio em escolas da ONU, hospitais ou casas de parentes durante os 50 dias de bombardeios israelenses. Cerca de 100 mil não puderam retornar ainda e vivem em barracas de campanha ou apartamentos compartilhados com parentes ou vizinhos para poder assumir os altos aluguéis.

Dados do governo de reconciliação nacional palestino afirmam que mais de sete mil imóveis ficaram completamente destruídos - entre eles grandes torres de apartamentos - e um número similar precisa de grandes obras.

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Três semanas após estipulado o cessar-fogo permanente, a entrada de materiais de construção na Faixa de Gaza - que Israel se tinha comprometido a autorizar - ainda não flui. O governo israelense aceitou o mecanismo proposto pela ONU de funcionários das Nações Unidas vigiarem os materiais.

Antes do conflito, um apartamento de três quartos em Gaza custava cerca de US$ 200 ao mês, mas agora é impossível encontrar algum por menos de US$ 400 mensais. "Não só não posso pagar esse preço, não posso desperdiçar o pouco dinheiro que tenho em algo que não é meu, que vai se evaporar", disse Asser.

Especialistas como Omer Xá'ban, presidente de um dos centros de análise econômica de Gaza, consideram que não existe uma verdadeira vontade de solucionar o drama local. "Existem várias razões para que o tema da reconstrução não tenha sido resolvido ainda. Uma delas são as disputas internas entre o (partido nacionalista) Fatah, do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e (o movimento islamita) Hamas", que mantém ainda grande parte do controle da Faixa, explicou.

"Não há dúvida que esta queda de braço afeta negativamente o processo, e o seguirá fazendo, já que os doadores advertiram que o dinheiro não chegará enquanto persista o conflito interno palestino e não haja uma autoridade clara em Gaza", ressaltou Xá'ban.

Outros acusam Israel de explorar e fomentar a divisão palestina para que a reconstrução não avance e possa assim manter o bloqueio econômico e o assédio militar ao qual submete a Faixa desde 2007. "O acordo de cessar-fogo incluía a demanda fundamental que se suspendesse o bloqueio e se autorizasse a entrada de material sem restrições", lembrou Aatef Odwan, membro do Hamas e do Parlamento palestino.

"Passaram-se semanas e nada mudou. O acordo com a ONU não é suficiente", acrescentou, antes de advertir que, se não melhorar, essa situação "pode levar a uma nova explosão". / EFE

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