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General tentará manter Líbano unido

Michel Suleiman será escolhido hoje o novo presidente do Líbano e terá a missão de evitar a fragmentação do país

Por Reuters
Atualização:

Depois de 20 tentativas de eleger um chefe de Estado e 18 meses de uma crise política que quase levou o país à guerra civil, o Parlamento do Líbano escolhe hoje o general Michel Suleiman como presidente. A escolha só foi possível graças a um acordo fechado entre o governo e a oposição, comandada pelo grupo xiita Hezbollah. Em troca do compromisso dos xiitas de não recorrerem à violência, o Hezbollah ganhou direito de veto no novo governo. Muitos especialistas acreditam que o acordo seja apenas uma trégua temporária, que acabaria diante da primeira crise. A figura central desse novo arranjo político será agora o general Suleiman, chefe do Exército e homem que manteve as Forças Armadas libanesas unidas durante os últimos três anos. Como novo chefe de Estado do Líbano, seu principal desafio será reconciliar políticos inimigos que concordaram que seria ele a pessoa certa para liderar um país paralisado por disputas de poder. ''Não posso salvar o país sozinho. Essa missão exige o esforço de todos'', disse Suleiman na sexta-feira a um jornal libanês.Durante a crise das últimas semanas, Suleiman conseguiu a façanha de manter o Exército de fora da disputa, a mais grave de desde a guerra civil, que durou de 1975 a 1990. Em vez de enfrentarem os atiradores, seus soldados foram mobilizados apenas para manter a paz. As que as batalhas pelas ruas de Beirute culminaram com a vitória do Hezbollah, o mais poderoso grupo político do Líbano e uma organização com a qual Suleiman manteve boas relações no passado. ''A segurança não é obtida à força, mas com vontade política conjunta'', disse o general. Sua atitude durante a crise foi elogiada pelo Hezbollah, mas bastante criticada pela coalizão governista, que não gostou da conivência do Exército com a ofensiva do grupo xiita. Apesar das críticas, as facções que formam a aliança governista, principalmente as contrárias à Síria, abriram mão de indicar o próximo presidente e mantiveram o apoio a Suleiman como um nome de consenso. DESAFIOS Aos 59 anos, Suleiman ocupará o cargo abandonado em novembro por Emile Lahoud, aliado de Damasco e visto por seus opositores como uma marionete da Síria. O novo presidente do Líbano foi nomeado comandante-chefe do Exército em 1998, quando os sírios ainda controlavam o Líbano. Ele manteve uma coordenação estreita com as tropas da Síria antes de elas se retirarem do país, em 2005, após o assassinato do primeiro-ministro Rafik al-Hariri. Como presidente, Suleiman terá de lidar com inúmeros assuntos que dividem o país. O mais grave é a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que estabelece que todas as milícias do Líbano sejam desarmadas, inclusive o Hezbollah, demanda apoiada pelos principiais adversários dos xiitas. O problema é que Suleiman não se mostrou nem disposto nem capaz de impedir que a organização, apoiada por sírios e iranianos, aumentasse e renovasse seu arsenal logo após a guerra com Israel, em 2006. De acordo com o sistema libanês de partilha de poder sectário, a presidência do país está reservada para um cristão maronita, exatamente o perfil de Suleiman, que nasceu na cidade de Amchit. Fluente em inglês e francês, o general é casado e tem três filhos. Em 1970, ele concluiu a Academia Militar e formou-se em política e administração pela Universidade do Líbano. PROJEÇÃO NACIONAL Apoiado pela resolução da ONU que pôs fim à guerra entre Israel e o Hezbollah, há dois anos, foi ele quem supervisionou a mobilização das tropas libanesas que garantiram a estabilidade no sul do país. Durante as 15 semanas de combates entre o Exército e militantes islâmicos, no ano passado, Suleiman teve um importante papel como comandante militar. Os libaneses apoiaram suas tropas durante a campanha contra militantes radicais em um campo de refugiados palestino. Mais de 420 pessoas, incluindo 168 soldados, morreram nos combates. A revolta foi sufocada e Suleiman ganhou projeção nacional. Se as tensões sectárias do Líbano foram um teste para a unidade do Exército, seus recursos também se esgotaram com a mobilização de 15 mil soldados no sul do país, em 2006, e pelas batalhas prolongadas com os militantes islâmicos no norte, no ano passado. De acordo com analistas, apesar do consenso, o futuro do novo presidente não será fácil. Além do enfraquecimento do Exército, Suleiman terá de conviver com o crescimento do Hezbollah, cada vez mais próximo do poder no Líbano. Caberá também ao general provar que o acordo entre governo e oposição não é uma bomba-relógio pronta para explodir a qualquer momento.

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