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Geopolítica africana

Osama bin Laden foi morto. No Mali, esse vasto país situado entre o Saara e a África negra, os soldados franceses expulsaram os terroristas, impedindo, assim, que no centro do continente uma grande zona ficasse em mãos dos terroristas islâmicos. Tudo isso foi tranquilizador, mas hoje percebemos que o terror, longe de ter desaparecido, continua vivo, fugidio, imaginativo e multiforme. Em Londres, em pleno dia e em plena rua, um soldado britânico foi morto a golpes de facão por dois nigerianos tranquilos, que chegaram até mesmo a pedir a um pedestre que os filmasse depois da sua façanha, ainda tendo em mãos as armas ensanguentadas. Obra de dois fanáticos, é o que foi dito. Mas, 24 horas depois, foi na África negra, em Níger, vizinho do Mali (o Níger ajudou o Exército francês em sua operação no Mali) que o terror atacou novamente. E lá não foram somente "lobos solitários", como em Londres. Não, ali encontramos todas as marcas do grande terrorismo: o grande número, a organização, o sangue frio, o profissionalismo e uma coragem espantosa. E quem os jihadistas atacaram? Dois países: de um lado o próprio Níger, um de seus quartéis, ou seja, um país africano que apoiou a França na sua guerra no Mali no início do ano. E atacaram especialmente a França, que querem castigar pela guerra que os franceses travaram no Mali contra o terrorismo de grupos islâmicos. No Níger, os comandos do terror escolheram muito bem seu alvo: as minas de urânio exploradas pela Areva, a gigante francesa da energia nuclear. O ataque foi de uma rara violência: o veículo detonado estava carregado com 400 quilos de explosivos. Catorze funcionários ficaram feridos e um morreu. E a unidade de produção de urânio ficará sem funcionar por período indeterminado. A usina da Areva no Níger é imponente. A empresa francesa é a maior empregadora do país (2.700 empregos diretos e quase o mesmo número de indiretos) com 80 engenheiros expatriados. Com duas outras centrais que são exploradas com sócios nigerinos, canadenses e japoneses, a Areva produz em suas minas no Níger 3.600 toneladas de urânio, ou seja, mais de um terço da produção mundial. A gigante francesa prepara-se para abrir uma outra central em Imouraren, a céu aberto, que deverá, com o tempo, fornecer mais de 5 mil toneladas de urânio. Ou seja, o Níger é um país-chave para a indústria nuclear francesa, e também mundial. Portanto, é urgente garantir a segurança do país. Mas estamos na África, onde as fronteiras são imprecisas. Ao sul do Níger, temos a imensa Nigéria e, mais longe, a inquietante República Democrática do Congo (ex-Zaire). Ao norte, estende-se o deserto sem fim do Saara e há o Mali, sem muita segurança. Há também o sul da Argélia e, sobretudo, o sul da Líbia, espaço aberto a qualquer um depois da morte do ditador Muammar Kadafi, país com armas em profusão, onde predominam bandos exaltados, um lugar que virou refúgio de combatentes fanáticos vindos de toda parte, que só desejam destruir. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOGILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS

Por GILLES LAPOUGE
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