Geórgia sufoca rebelião militar e acusa Rússia de incitar golpe

Moscou rejeita acusação, depois retirada por Tbilisi; episódio expõe fragilidade do presidente georgiano

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Por TBILISI
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O governo da Geórgia disse ontem que centenas de soldados se renderam depois de um breve motim em uma base militar próxima à capital, Tbilisi. A intenção seria atrapalhar os exercícios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) previstos para começar hoje na Geórgia. Inicialmente, as autoridades georgianas acusaram a Rússia de apoiar a rebelião e o Ministério do Interior chegou a informar que o plano era derrubar o presidente Mikhail Saakashvili. Depois, o governo voltou atrás nas declarações e os motivos da sublevação ficaram sem explicação oficial. O episódio intensificou ainda mais a tensão na região, que ainda está abalada pela breve guerra entre Moscou e Tbilisi em agosto. Por volta das 12 horas locais (5 horas de Brasília), o ministro da Defesa georgiano, David Sikharulidze, disse que foi impedido de entrar na base militar de Mukhrovani, a 30 quilômetros da capital. O ministro afirmou ainda que os cerca de 500 militares da base, juntamente com um número incerto de civis, anunciaram que se recusariam a obedecer às suas ordens. Após as declarações de Sikharulidze, o Ministério do Interior anunciou que havia descoberto um complô apoiado pela Rússia para derrubar o governo de Saakashvili e suspeitos de terem participado do motim tinham sido presos. Acredita-se que o comandante da base foi preso com mais 7 militares e 13 civis - outras 3 pessoas estariam foragidas. Depois, o Ministério do Interior afirmou que os rebeldes tinham como objetivo interromper os exercícios da Otan que devem durar aproximadamente um mês. Horas depois, o órgão disse que centenas de soldados e oficiais se haviam rendido após conversarem com Saakashvili. O presidente teria sugerido que poderia utilizada força contra os ocupantes da base. "A situação está sob controle", afirmou Saakashvili em um comunicado transmitido pela TV. "O objetivo (da ação) foi criar um levante armado em grande escala em Tbilisi e atentar contra a soberania da Geórgia e a integração europeia e atlântica do governo georgiano." Saakashvili não acusou diretamente a Rússia pela suposta rebelião, mas pediu ao "vizinho do norte que pare com as provocações". O porta-voz do Ministério do Interior da Geórgia, Shota Utiashvili, foi mais direto e afirmou que Tbilisi tinha provas do envolvimento russo na ação. "Temos informações segundo as quais os rebeldes estavam em contato direto com os russos, que recebiam ordens e dinheiro da Rússia", afirmou Utiashvili. ?IMAGINAÇÃO DOENTIA? Em Moscou, o Kremlin e o Ministério de Relações Exteriores rejeitaram as acusações e afirmaram que todo o episódio não passa de um jogo político de Saakashvili para tentar tirar a atenção dos protestos contra ele organizados pela oposição. Há mais de três semanas, o presidente tem sido alvo de grandes manifestações exigindo sua renúncia. "Está ocorrendo o que sempre tememos: a liderança georgiana está tentando mudar o foco de seus problemas domésticos ao culpar a Rússia", disse o vice-chanceler russo, Grigori Karasin. "São provas da imaginação doentia e do comportamento irresponsável dos líderes georgianos." A Rússia tem criticado duramente os exercícios da Otan na região, afirmando que as manobras podem encorajar a Geórgia a reconstruir sua infraestrutura militar - devastada após o conflito de agosto. Ontem, a Armênia - que é dependente da Rússia para sua sobrevivência econômica - anunciou que não participará das manobras. A Otan ressaltou que sua presença na região não é uma ameaça para a Rússia e convidou Moscou a participar dos exercícios. Mas as manobras militares contribuíram para renovar as tensões entre Otan e Rússia, que tinham suspendido os laços durante o conflito de agosto e retomado relações na semana passada. AP, AFP E REUTERS DENÚNCIAS Mikhail Saakashvili Presidente da Geórgia "O objetivo (da ação) foi criar um levante armado em grande escala em Tbilisi e atentar contra a soberania da Geórgia" Shota Utiashvili Porta-voz do Ministério do Interior da Geórgia "Temos informações segundo as quais os rebeldes estavam em contato direto com os russos" RELAÇÕES COMPLICADAS Junho de 1992: Após anos de conflito, líderes da Rússia, da Geórgia e da república separatista da Ossétia do Sul assinam armistício e acertam criação de força de paz Janeiro de 2005: Rússia apoia o plano da Geórgia de conceder autonomia ampla à Ossétia do Sul em troca de a região deixar de lado seus planos de independência Março de 2008: Geórgia tenta ingressar na Otan, levando o Parlamento da Rússia a conclamar o governo a reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkázia, outra república separatista georgiana 7/8/2008: Geórgia entra na Ossétia do Sul para tentar retomar o controle de região 8/8/2008: Rússia reage e começa a bombardear alvos na Geórgia 9/8/2008: Geórgia se declara em "estado de guerra" 12/8/2008: Moscou aceita proposta de cessar-fogo 26/8/2008: Rússia reconhece independência das regiões Ossétia do Sul e Abkázia, enfurecendo o Ocidente

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