Geração pós-revolução quer avanço

Jovens, que já são 70% da população, recorrem à tecnologia e ao jeitinho para escapar da repressão do Estado

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Por Adriana Carranca e TEERÃ
Atualização:

Imagens do aiatolá Khomeini e grafites antiocidentais nos muros da antiga embaixada americana disputam a atenção com outdoors de novas lojas Benetton, shopping centers, escolas de inglês e espanhol. A gradual mudança na paisagem urbana de Teerã é um sinal ainda discreto de uma transformação silenciosa: 70% da população do Irã tem menos de 28 anos. Nascidos após a Revolução Islâmica, eles não se identificam com seus heróis e dialogam pouco com o regime. Esses jovens são a nova - e ainda desconhecida - face do Irã. Apreensivo sobre os caminhos dessa nova geração, o governo tenta mantê-la sob controle. Organizações denunciam a prisão sistemática de estudantes. Sites e blogs são bloqueados. A paranóia dos aiatolás chegou até os salões de beleza - 20 deles foram fechados no fim de semana passado por oferecerem cortes extravagantes e tatuagem. Desde março, foi lançada uma ofensiva dos basidjis (guardiães da moral) sobre adeptos da moda moderna. Mais de 150 mil jovens foram abordados e muitos, levados à delegacia. Em julho, 200 foram presos em um show de rock. O chefe da polícia, Esmaeel Ahmadi Modhaddam, diz que o objetivo é aumentar a segurança. Mas críticos acreditam em uma tentativa de intimidar os jovens e silenciar novas vozes dissidentes em reação a problemas econômicos. O cerco aos jornais reformistas foi intensificado. "Não há liberdade", diz, na Universidade de Teerã, um estudante de biologia de 22 anos, de cabelos compridos e chinelão hippie, que defende o secularismo. Os jovens, no entanto, descobriram a internet, que o governo tenta controlar, mas não consegue evitar que conversem por MSN e troquem músicas e informações pela rede. "Hoje troco idéias com iranianos do país inteiro e posso discutir o que não falo nas ruas", diz o blogueiro Ehsan, de 25 anos. À medida que o Estado controla, eles aprendem a driblar as regras. "No Irã, o que se vê não é e o que é não se vê", define um diplomata ocidental. No fim da tarde, é intenso o movimento na Rua Jordan, onde meninos e meninas passam de carro e trocam, rapidamente, números de celular para paquerar por mensagens longe do olhar da polícia. Ou marcam encontros nas montanhas de Darband, reunidos em torno de um guelium (cachimbo d?água). No parque Melat, chama a atenção a quantidade de casais com crianças. "Eles tomam emprestados os filhos de parentes e amigos para namorar em paz", explica uma jovem de 22 anos. Namoro, só com certidão de noivado. Manifestações públicas de carinho são proibidas. A paquera ocorre em animadas festas dentro de casa, onde as mulheres tiram o véu e vestem minissaias, compradas no shopping Tandis, cujas vitrines exibem marcas como Diesel, Fendi, Gucci. O som é à base de músicas proibidas, incluindo o rap. O álcool é vendido por cristãos armênios. Sexo antes do casamento ainda é tabu. O Estado interfere, obrigando até hotéis a exigir certidão de casamento. A nação religiosa e conservadora impõe certa inocência aos jovens. Eles anseiam por maior liberdade de expressão, maior abertura econômica e boas relações com o mundo. Mas não almejam o que chamam de degradação moral do Ocidente. Estão menos preocupados com a liberalização dos costumes morais e mais com o futuro: quase a metade dos que têm entre 25 e 29 anos está fora do mercado formal de trabalho. Sete em cada dez vivem nas cidades. "Nossa revolução é outra", diz Mohammad Reza,produtor de 11 filmes, em uma mesa do Café 8 1/2, reduto de jovens cineastas - que o governo fechou, mas foi reaberto em novo endereço. "Os iranianos são cultos, sofisticados. Querem avanço", diz Caio Milani, brasileiro que abriu dez lojas Benetton no Irã nos últimos dois anos. "Não é o horror que se pensa. É o país das oportunidades."

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